terça-feira, 31 de março de 2009

O SAGRADO E O PROFANO

O SAGRADO E O PROFANO
Eles andam juntos desde a antiguidade. Na verdade nasceram juntos. São gêmeos e bem diferentes. Ambos cultuam o externo e se prendem basicamente no que é aparente. Sempre estão ligados ao aparente. Na verdade, não é só filosofia, quando se refere ao dito "Decifra-me ou devoro-te".
Sagrado e Profano confundem-se em nossas idealizações. Ambos nos atraem e nos repulsam quando nos deparamos em momentos de rara existência. O sagrado nasce, em primeiro momento, fruto de nossa paixão, derivado de nossos desejos. Ele surge da necessidade que temos, de alguma forma satisfazer àquelas fantasias que todo ser humano tem, por aquilo que nunca consegue administrar. Por isso mesmo permanece sempre no campo dos ideais.
É do sagrado, que vem a pureza dos nossos projetos; o dourado de nossos sonhos. Com ele, o ruim fica bom e até nossa invencibilidade fica autenticada, com a idéia que podemos fazer com que o "objeto" seja cada vez mais, o protótipo de nosso sonho. No sagrado, ficamos forte, sentimo-nos puros e livres de qualquer sentimento de culpa. Ambos, nós e o sagrado se entrelaçam fazendo uma força retentora de energia positiva, sempre disposta a ir contra tudo e todos. Se o temos nas mãos, ficamos à mercê do mesmo e com isso dificilmente, fazemos o que é planejado. Só se faria o planejado se não fosse sagrado. Porque é tão difícil?
O sagrado parece invencível. Por vezes o é! Em momentos únicos ele se mostra com tal envergadura, que só mesmo o tempo pode vence-lo tornando-o, íntimo demais, nos deixando na dúvida de tanta purificação. Com tanto pudor, ele seria anjo ou demônio? Aparece tocando os violinos ou as guitarras? Ele se torna puro sim, mas até o momento da chegada do profano.
Esse está à espreita do sagrado e como num susto, ele surge diante de nós. Assusta, porque, ao contrário do sagrado, não trás máscaras e mesmo de longe, permeia nossos sentidos mais proibidos, fazendo dele algo sempre desejado. Desejado, porém proibido. O sagrado parece pedir sempre pelo profano, embora haja em si mesmo, resistência. Mas é do profano que gostamos mais.
Do profano, surgem duas vias que precisam estar em sintonia: a nossa e a do objeto. É preciso tirar a pureza do sagrado, vestir -se do profano, em partida do objeto, que se despi de pureza e também se veste de profano. Ai acontece... Nesse encontro, não mais elevação do mito, nem super-valorização do outro, que na verdade somos nós mesmos, diferenciando apenas de lugar e hora. Nesse momento, administramos bem o que temos na mão, devorando o que nem sempre é decifrado. De longo, o profano sempre foi o fruto proibido, entretanto o de melhor sabor.
Não é de hoje, que o sagrado intimida, põe medo; não é de hoje também que o profano atrai e nos dá coragem. Ambos possuem a misteriosa capacidade de nos mudar, colocando o perigo sempre à nossa volta. O sagrado nos emudece; o profano nos faz gritar. O profano está sempre dentro de nós, reprimido tal qual nos é dito que é pecador. O sagrado precisa saltar aos olhos e ser notado pelos outros. O sagrado cobre-se com o véu; o profano tira toda sua roupa. O profano goza; o sagrado adia.
Quando deparamos antes, com nosso objeto de desejo e tão esperado em sua nudez, conseguimos ver apenas o sagrado. Ele, o objeto, se impõe de forma majestosa em uma redoma de vidro onde ao nosso ver, nada o pode deter. Ele fica ali, único em sua grandeza e de cá, um admirador bobo, cumpridor de suas vontades. Nesse tempo, tudo pode o outro. Tocá-lo em sua profanidade, parece impossível ao sagrado.
Dado o tempo, o sagrado se chega, através de conquistas. A redoma de vidro é quebrada e ali, frente a frente, ficamos: o sagrado e o devoto. Equilíbrio se faz necessário, para agora saber administrar o poder dado pelo sagrado. O sagrado agora vira profano. De Limpo a imundo; de grande para igual. As mais íntimas seduções brotam agora de um não sei onde... Apenas brota e arde, queima.
Sagrado e profano andam juntos, movem a vida e excitam as relações. Para todos nós há sempre de lá, a nos espiar, um olhar de sagrado, um olhar de profano. De nós, para o objeto, há sempre um olhar de sagrado, um de profano. Os dois se entrelaçam e fazem uma combinação em nossas vidas. Sagrado e Profano são a vida. Sagrado ou Profano, se faz a vida.

Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva e professor universitário em Goiânia-GO.  

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