domingo, 13 de julho de 2014

SOU DE UM TEMPO...

Sabe, eu sou de um tempo que ficou. E apesar desse tempo não ter ficado há muito, sinto que ele foi esquecido depressa demais. Percebo que ele foi consumido por fatos e atos rasos e supérfluos que foram "modernizando" os nossos dias. 

Sou de um tempo, onde as crianças andavam descalços, tomavam banho na chuva, faziam suas próprias pipas e seus carrinhos de rolimãs. O contato com a terra era diário e as brincadeiras eram de pique esconde, amarelinha, elástico é pique pega. Andávamos de bicicleta e esta era uma aquisição que nos envaidecia e nos diferenciava. Neste tempo, os filhos pediam benção aos pais e eles os abençoava. Era um tempo, onde os pais não iam presos por corrigir seus filhos.

No meu tempo, as crianças nasciam e as mães guardavam o resguardo, com canja de galinha, unguentos e chás. Os bebês usavam fraldas de pano e estas eram passadas de filho a filho ou para primos. Não haviam tantos partos de cesárea e as famílias era maiores. O mamar era prazeroso para o filho e as mães eram as que criavam e educavam sua prole. Na escola, chamávamos a professora de tia e esta fazia mesmo, o papel da mãe/tia.

Eu sou de um tempo, onde não haviam tantos apartamentos, onde as pessoas visitam as casas uma das outras ao anoitecer e umas cumprimentavam as outras quando se encontravam. Venho de um tempo, onde os vizinhos trocavam produtos de casa e dividiam aquilo que tinham para não ver o próximo passando necessidade. Eu sou do tempo que se vendiam ki-suco, conga, ki-chute, ki-bamba, baré e chiclete ping pong.

Eu sou de um tempo, onde as crianças e adolescentes trabalhavam e estudavam e pasmem: elas conseguiam. Nas escolas, estudávamos em cartilhas que eram aproveitadas no ano seguinte e olha que interessante: sabíamos cantar o hino nacional, o hino da bandeira e o hino da independência. E o mais chocante de tudo era que saíamos do ensino fundamental sabendo ler. Os filhos amavam e respeitavam os pais, como sendo estes seus únicos heróis. Neste tempo, as amizades se fortaleciam com brincadeiras, passeios, risadas e reuniões. 

Eu sou de um tempo, onde não tinha vídeo-game, não tinham tantos televisores e os que tinham, não tomavam o lugar da família. Neste tempo, as igrejas eram em menos quantidades e por conseguinte, eram de mais qualidade. As músicas desta época, era a junção gostosa de letra, melodia e voz. Ouvíamos falar em drogas e delas tínhamos medo. Quando tinha um velório, as pessoas iam e se solidarizavam com a dor de quem ficava. 

Neste tempo, haviam poucos telefones fixos e estes eram valiosos. Não existiam tantos celulares e dessa feito, falávamos, ouvíamos e tínhamos contato com as pessoas. Naquela época, contávamos as estrelas e procurávamos as que "andavam" na imensidão do céu escuro. Neste tempo a que me refiro, as pessoas não ficavam e em troca, buscavam um namoro sério e era motivo de orgulho dizer que ainda era virgem. Sou de um tempo, onde casamento era para um vida toda e não um serviço de ninguém.

Eu sou de um tempo, onde as pessoas escreviam cartas e guardavam. Sou de um tempo onde os fogões possuíam "asas" e em sua maioria eram vermelhos. Sou de um tempo, onde se encontravam alfaiate, engraxate e as músicas eram ouvidas em LP's e fita cassete. Quem tinha vídeo cassete e enceradeira era privilegiado. 

Sabe, eu sou de um tempo, que, onde se alimentava um, se alimentavam dez. Sou de um tempo, onde a palavra amor, amizade, respeito e compromisso tinham outro significado.  Sou de um tempo, onde era mais importante ser do que ter; era mais importante ter sentimento do que ter corpo; era mais importante ter valor do que ter preço. Não, não pense que sou velho. Eu apenas tive alguns privilégios que não existem mais.

E de que tempo você é? 


Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e professor universitário em Goiânia-GO. 

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