Nossos "heróis" estão morrendo?!
Me preocupa
ver jovens e adolescentes cada vez mais idolatradores de artistas,
homens e mulheres que não tem muito ou quase nada a oferecer. Seus "heróis", morrem de
overdose, se suicidam, batem nos pais, são presos, fazem músicas com
apologia à depressão, à anarquia, ao consumismo, ao desrespeito, ao uso de drogas lícitas e ilícitas, ao sexo fácil e
barato, ao nada, ao português chulo e à bizarrice (do funk ao sertanejo). Seus "heróis" quase sempre não defendem o bem, a educação, a família, os princípios. Quase sempre seus "heróis" não possuem nada disso. Só lhes
ensinam o que não presta e é o que por
certo vão lhes matar também.
Não me diga que: "Eu só curto, a música, o som, a coragem e a
arte que eles fazem". Somos construídos e constituídos por aquilo que
ouvimos, fazemos, admiramos, acreditamos, defendemos... é isso que somos,
mesmo que tenhamos letras de impacto e um discurso radicalizador! Usar drogas, ser "diferente", fazer o que der vontade, ir contra conceitos prontos, fazer musicas com letras de impacto... é ser "herói"? Pensar que estar arrazando e se achar o máximo é exatamente fazer o que?
Não nego os seus valores enquanto artistas, enquanto construtores de conceitos em sociedade e delimitador do tempo em que existiram. Mas não posso negar também, que cada vez mais construimos uma sociedade que caminha para o nada, para o caos e grande parte desse material construtivo, é absolvido desses "heróis" que estão na mídia, com o poder da palavra e da persuasão. É natural que hoje, os pais sejam substituidos pelo video game; a leitura de um bom livro, seja trocada pela batida inebriante do funk; o velho e bom bate papo sobre referências, sejam trocadas pelas horas na internet e até mesmo o brincar, foi trocado pelo frenético ardor do capitalismo selvagem.
É lamentável ter que admitir, mas um país que classifica-se em 55º lugar na educação mundial, onde necessidades básicas de sua sociedade, com saúde e saneamento não existem; onde gastamos muito mais com carnaval e micaretas, possam de fatos construir "heróis" como estamos acostumados a ver. É neste mesmo país, onde leiloa-se a virgindade; onde ficar confinado numa casa, subemtendo-se a prova esdrúxulas é ser "herói"; onde mostrar as partes íntimas em uma faculdade é requisito para se tornar celebridade; onde família é produto descartável; onde a mulher vira fruta, onde propaganda de bebida é mais veiculada do que propaganda de educação; onde achar dinheiro na rua e devolver ao dono é algo extraordinário; onde professor é demitido quando reprova um aluno que não sabe ler; onde ler e escrever é ser alfatizado; onde fazer "gato" da tv a cabo é motivo de comemoração... é esse país onde os "heróis" podem tudo.
Não pense que estou dizendo o contrário, de que é justamente com as diferenças que se fortalece a democracia. E é na
democracia que podemos pensar sempre que tipo de valor estamos criando
em sociedade. Estou dizendo, que essa mesma democracia nos permite ser "essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha
opinião formada sobre tudo". Estou lembrando com isso, que nesta mesma democracia não se deve generalizar ou marginalizar a sua diveridade cultural. Contudo, não se deve fazer uma prisão (como era antes) nem tão pouco um parque de diversões (como o é agora).
Talvez precisemos repensar o conceito do que é ser herói. O momento de repensarmos o conceito de família é agora. Não estou me referiando ao modelo tradicional somente, mas ao sentido moral da palavra. É bom pensarmos um pouco, e assim refletirmos, sobre o que estamos ouvindo, sobre o que chamamos de ídolo, sobre o que são valores morais e éticos, sobre concepções a respeito de drogas, liberdade, civilização, educação, respeito entre tantos outros. Acima de tudo pensarmos que tipo de heróis queremos para um futuro próximo.
Onde
estão nossos heróis? O que queremos ser quando crescer? Que exemplos
estamos tomando para a vida? Quais são nossas referências? Vale parar e
pensar um pouco sobre que valores são esses.
Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em
educação especial e inclusiva e professor universitário em Goiânia-GO.