Eles andam juntos desde a antiguidade. Na verdade nasceram juntos. São gêmeos e bem diferentes. Ambos cultuam o externo e se prendem basicamente no que é aparente. Sempre estão ligados ao aparente. Na verdade, não é só filosofia, quando se refere ao dito "Decifra-me ou devoro-te".
Sagrado e Profano confundem-se em nossas idealizações. Ambos nos atraem e nos repulsam quando nos deparamos em momentos de rara existência. O sagrado nasce, em primeiro momento, fruto de nossa paixão, derivado de nossos desejos. Ele surge da necessidade que temos, de alguma forma satisfazer àquelas fantasias que todo ser humano tem, por aquilo que nunca consegue administrar. Por isso mesmo permanece sempre no campo dos ideais.
É do sagrado, que vem a pureza dos nossos projetos; o dourado de nossos sonhos. Com ele, o ruim fica bom e até nossa invencibilidade fica autenticada, com a idéia que podemos fazer com que o "objeto" seja cada vez mais, o protótipo de nosso sonho. No sagrado, ficamos forte, sentimo-nos puros e livres de qualquer sentimento de culpa. Ambos, nós e o sagrado se entrelaçam fazendo uma força retentora de energia positiva, sempre disposta a ir contra tudo e todos. Se o temos nas mãos, ficamos à mercê do mesmo e com isso dificilmente, fazemos o que é planejado. Só se faria o planejado se não fosse sagrado. Porque é tão difícil?
O sagrado parece invencível. Por vezes o é! Em momentos únicos ele se mostra com tal envergadura, que só mesmo o tempo pode vence-lo tornando-o, íntimo demais, nos deixando na dúvida de tanta purificação. Com tanto pudor, ele seria anjo ou demônio? Aparece tocando os violinos ou as guitarras? Ele se torna puro sim, mas até o momento da chegada do profano.
Esse está à espreita do sagrado e como num susto, ele surge diante de nós. Assusta, porque, ao contrário do sagrado, não trás máscaras e mesmo de longe, permeia nossos sentidos mais proibidos, fazendo dele algo sempre desejado. Desejado, porém proibido. O sagrado parece pedir sempre pelo profano, embora haja em si mesmo, resistência. Mas é do profano que gostamos mais.
Do profano, surgem duas vias que precisam estar em sintonia: a nossa e a do objeto. É preciso tirar a pureza do sagrado, vestir -se do profano, em partida do objeto, que se despi de pureza e também se veste de profano. Ai acontece... Nesse encontro, não mais elevação do mito, nem super-valorização do outro, que na verdade somos nós mesmos, diferenciando apenas de lugar e hora. Nesse momento, administramos bem o que temos na mão, devorando o que nem sempre é decifrado. De longo, o profano sempre foi o fruto proibido, entretanto o de melhor sabor.
Não é de hoje, que o sagrado intimida, põe medo; não é de hoje também que o profano atrai e nos dá coragem. Ambos possuem a misteriosa capacidade de nos mudar, colocando o perigo sempre à nossa volta. O sagrado nos emudece; o profano nos faz gritar. O profano está sempre dentro de nós, reprimido tal qual nos é dito que é pecador. O sagrado precisa saltar aos olhos e ser notado pelos outros. O sagrado cobre-se com o véu; o profano tira toda sua roupa. O profano goza; o sagrado adia.
Quando deparamos antes, com nosso objeto de desejo e tão esperado em sua nudez, conseguimos ver apenas o sagrado. Ele, o objeto, se impõe de forma majestosa em uma redoma de vidro onde ao nosso ver, nada o pode deter. Ele fica ali, único em sua grandeza e de cá, um admirador bobo, cumpridor de suas vontades. Nesse tempo, tudo pode o outro. Tocá-lo em sua profanidade, parece impossível ao sagrado.
Dado o tempo, o sagrado se chega, através de conquistas. A redoma de vidro é quebrada e ali, frente a frente, ficamos: o sagrado e o devoto. Equilíbrio se faz necessário, para agora saber administrar o poder dado pelo sagrado. O sagrado agora vira profano. De Limpo a imundo; de grande para igual. As mais íntimas seduções brotam agora de um não sei onde... Apenas brota e arde, queima.
Sagrado e profano andam juntos, movem a vida e excitam as relações. Para todos nós há sempre de lá, a nos espiar, um olhar de sagrado, um olhar de profano. De nós, para o objeto, há sempre um olhar de sagrado, um de profano. Os dois se entrelaçam e fazem uma combinação em nossas vidas. Sagrado e Profano são a vida. Sagrado ou Profano, se faz a vida.
Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva e professor universitário em Goiânia-GO.
Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva e professor universitário em Goiânia-GO.
12 comentários:
belíssimo texto amigo...
sempre sendo sábio e inteligente nas palvras,vc é um exemplo a ser seguido, te admiro..abraçãooooo
Mto bom o texto Paulo Veras
Parabéns pelo trabalho,você
é mesmo um gênio de mta admiraçao..
bjosss amigão.
Amigo,
Que bom ler você, que bom aprender com você.
Ja adicionei aos meus favoritos e será visita constante.
Sagrado ou Profano? Depende da ótica, do momento, da visão, do contexto... afinal somos humanos e nos é permitido (acho que é por isso que os deuses nos invejam)
To vendo que isso aqui será um verdadeiro sucesso... eu particulamente quero ler todos os dias pois é importante ouvir quem tem o dom da palavra para que a gente seja um ser humano melhor em todos os sentidos... manda vê Paulo, admiro vc muito! gde abraço...
Acontece que Paulo Veras deveria lançar um guia de bolso,ou ser um guia de bolso,nas horas mais conflituosas da vida era só sacar Paulo Veras e ouvir algumas sábias palavaras.Conhecer este ser humano e pouco, tem que se viver com ele é aprender com ele.Parrabén sucesso no blog.Ah....já virou indicação minha.!
Li o seu texto, a princípio queria entender de imediato logo nos primeiros parágrafos, e percebi q tinha muito ainda em saborear o restante.
Muito bacana a sua visão e principalmente os últimos parágrafos.
Abs.
Parabens menino pelas palavras, belo texto,quando eu crescer talvez entenderei tudo isso, quem sabe o Sagrado e o Profano me ajudaram...rsrsrssr. um abraçao. Primosicologo.
Digno de pena...
Gostei muito das crônicas!!! Você já observou o que acontece sempre que você pensa? Uma palavra chama a outra, um pensamento gera outro, e você continua se movendo. Seu coração responde. Sua mente reage... Você talvez não diga nada, pois, na verdade, não é necessário dizer "isso é belo". A resposta vem do coração... Algo começa a dançar dentro de você, algo é instigado no mais profundo núcleo de seu ser. Algo começa a se abrir dentro de você... A dúvida aguça sua inteligência. É um desafio... Até descobrir o que é a verdade, o que é o amor, o que é o silêncio, o que é a beleza. A dúvida é cirúrgica, ela corta tudo aquilo que é absurdo, mas no final o verdadeiro permanece, desvelado. A dúvida remove os véus. Se pudermos criar uma situação, um tipo de educação, que faça com que as pessoas compreendam seu ser interior, elas irão aprender uma grande compaixão, um amor por todos os seres... Terão uma enorme reverência pela vida...
Que tal um livro de crônica?
Mil e uma noite de abraços...
Ah, Paulo, que bom ver voltar o seu blog. Assim, mato saudades da sua fascinante forma de pensar. Grande abraço
A eterna guerra dos contrários.
a luz e as trevas
o bem e o mal
o certo e o errado
o belo e o feio
o sagrado e o profano...
Na minha opinião facetas de uma mesma força, movimento que impulsiona a vida, que a coloca na linha do tempo e faz com que tenhamos vontade de vive-la.
Na verdade o sagrado não se opõe ao profano, mas o completa, plenifica-o.
Duas asas que nos levam pelos ventos da vida.
Texto maravilhoso, eu me vi nesse texto, afinal de contas todos somos sagrados e profanos, as vezes somos aqueles anjinhos e os diabinhos..rsr Amigo, parabéns pelo trabalho... vou ser um leitor assíduo dos seus textos... grande abraçooo...
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