Que todos nós somos frutos de uma industria cultural manipuladora e que as nossas reações frente a essa manipulação, como humano, é inegável, todos nós já sabemos. Inclusive, foi Adorno, que disse que nosso inconsciente sofre essa repressão da "cultura" a que somos submetidos. É essa força, que determina geralmente, o que vamos usar, comer, sentir, desejar, pedir, como vamos nos comportar e até mesmo o que vamos achar certo ou errado, bom ou ruim.
Isso é fato. Somos frutos de um meio, de um poder industrial. Mas o que assusta mesmo é pensar que as pessoas sentem prazer (e forte prazer), frente a essa manipulação. As atrocidades e mazelas dos nossos dias, nos enchem quase sempre de prazer, de gozo. O sofrimento alheio e a dor que sabemos que eles sentem, nos deixam excitados e altamente ligados ao acontecido em questão. Eu sei, parece absurdo o que você está lendo! Eu também penso que é!
Para recaptular, masoquismo é uma tendência ou uma prática, pela qual uma pessoa busca sentir prazer quando vê sente dor ou apenas ao imaginar que sente. Está ainda ligado a uma uma forma de expressão sócio-sexual coletiva ou individual.
São os casos mais cruéis e sanguinários que nos atraém na programação da tv. São nos "barracos" que vibramos e torcemos para que um lado saia campeão. São as narrações mais dolorosas que nos convidam a praticar o nosso sentimentalismo, sejam ele de solidariedade, ou de prazer. Isso se explica, quando lemos e vemos os altos índices de audiência, quando há as coberturas de tragédias, sangues e dor. São nas séries de Jogos Mortais que vibramos e comentamos com avidez. Os filmes melosos demais, nos dão sono. São sem graça.
Por certo, somos todos ambivalentes, no que se refere aos nossos sentimentos. Isso quer dizer, que podemos ser solidários e masoquistas em um único acontecimento. Esses dois sentimentos ficam de plantão sempre e são convocados quando nos deparamos com algo que nos assuste ou nos impressione. Freud falou melhor sobre isso. Quando escreveu sua magnífica obra O mal estar na civilização, escrito por volta de 1930, ele disse que duas forças opostas nos regem. São instintuais: o instinto de vida e o instinto de morte, isto é, Eros e Tanatos.
Ainda para ele, os instintos é que expressam as nossas necessidades e sabemos que as necessidades só se realizam com a satisfação. Vamos entender isso melhor: alimentar é uma necessidade, assim como fazer sexo. Por outro lado, agredir, destruir, matar ou ainda, assistir a isso, também não deixam de ser. Porém, a civilização a que somos submetidos, fazem com que tais desejos sejam freados e reprimidos. Reprimidos como? Pelas leis, por exemplo. As leis tentam controlar e por ordem na sociedade. No entanto, a sociedade ainda recorre a guerras e conflitos para resolver a maioria dos seus probelmas, ou seja, recorre a seus instintos mais primitivos.
O masoquismo nosso de cada dia a que me refiro, está continda nos atos e nas ações que nem sempre podemos realizar, fruto das leis e normas que nos cercam. Mas elas estão ali, demonstradas em atos, olhares, sentimentos. Podemos por exemplo, não externar nosso preconceito a alguém, mas de certa forma o repugnamos por dentro.
Devemos ainda, considerar as causas sociais e econômicas da violência, bem como os fatores psicológicos e a falta de referência do que é amor para nos tornarmos a cada um dia um masoquista. Quando vemos um filme violento, uma notícia cruel... quando ficamos horas assistindo com interesse e curiosidade uma desgraça, ainda que com mal estar, estamos satisfazendo nossos instintuos destrutivos. Há sem dúvida, uma identificação muito grande do agressor com o espectador.
Mas, sabemos que admitir isso é difícil. Seria muito, admitir tal sentimento e ser condenado pela sociedade, amigos e familiares. Sabemos também, que reconhecer o material que somos feito e que muitas vezes é sórdido e mau, também é complicado.
Porém é mais fácil admitir que os filmes vendidos são os mais violentos do que admitir que temos um gosto por cenas violentas e que isso revela o nosso instinto agressivo. Se é ficção ou realidade não importa. O que importa é que é assim!
Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva e professor universitário em Goiânia-GO.
5 comentários:
Credu amigo, veio arrazando... To pensando nisso até agora. Voce tem toda razão...
Bjo
Andrea
de há muito venho observando e fazendo os mesmos questionamentos ... vc foi perfeito e didático em sua percepção e em sua análise ...
saudades querido
bjux
;-)
Oi.
Arrepiei, geral!
Isso explica minha preferencia por BBB? pelos vilões? Quando criança eu gostava dos mocinhos, hoje amo as vilanias.
Acode-me Freud.
Kiss blue's
Não tenho palavra pra descrever tal sentimento;mas,é uma grande realidade que presenciei esse tempos.'
Essas parafilias estão expostas em toda a sociedade. Estou preocupada com a mente humana, segundo o livro "Pequenas Sindromes", escrito por neurologistas dos EUA, nenhuma pessoa pode ser declarada normal, todos nós temos pequenas síndromes, resultados de fatores externos e internos. Gostei de ler vc, voltarei outras vezes.
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