Envelhecer é inevitável
e para a grande maioria das pessoas esse fato é doloroso. Porém numa sociedade
que cultua a juventude, isso se torna pior. A sociedade atual usa todos os recursos
possíveis para driblar a idade, os anos, as rugas e isso sem dúvida, gera uma
enorme crise em algumas pessoas. Um dos fatores mais graves que isso causa é
fazer com que olhemos a velhice com certa nulidade. É como se o velho se
tornasse uma pessoa inútil, que requer cuidados e que gera trabalhos e dores de
cabeça. Na cultura atual é isso que vemos. Na era do descartável, o velho vem
perdendo o seu valor.
Tornar-se idoso
é antes de tudo uma dádiva. Quem chega nesta fase, é sem dúvida um
privilegiado. Mas envelhecer exige dignidade. Porém, antes de chegar a velhice,
passamos pela fase que chamamos de Meia Idade e é neste período que entramos em
crise, a famosa crise de valores. Nesta fase, o medo acomete tanto homens como
mulheres e cada um procura a forma mais leve e menos complicada para viver esta
fase. O homem geralmente tenta lidar com seus dilemas de forma individual e a
mulher de forma mais coletiva.
Essa crise sempre
existiu, mas ela ganhou nome em 1965 pelo médico canadense Elliotti Jaques.
Porém foi com a chegada das redes sociais que a evidência desse período de
nossas vidas tornou-se mais notório e muitas vezes, constrangedor. Foi o
cineasta Woody Allen que
disse certa vez, que “A vida é uma doença fatal e sexualmente transmissível,” e essa afirmação nos faz pensar que envelhecer é,
portanto, natural e não nos parece saudável lutar contra a inevitável passagem do tempo.
A Gerascofobia é
a fobia mais típica da meia idade. Acredite: algumas pessoas tem tanto medo de
envelhecer, que sofrem e adoecem com esta possibilidade. Porém quando se é
jovem, pouco pensamos que vamos envelhecer e raramente temos medo dessa fase da
vida. A juventude é o tempo mais rápido de nossas vidas e, portanto, sempre
somos muito imediatistas, rápidos demais. Tudo se resolve na hora e nosso
relógio psicológico bate mais acelerado.
É
claro que é preciso se cuidar, ingerir alimentos saudáveis, praticar esportes, manter
a mente ativa, cultivar o lazer, as amizades e os hábitos que nos fazem bem.
Mas não é disso que me refiro. É preocupante o processo maçante de mostrar ao
outro que estamos bem, que não estamos envelhecendo, que somos jovens e que o
tempo só passou para os outros. Por que temos tanto medo de envelhecer? Será se isso acontece porque, em muitos casos, a velhice está associada a aspectos
negativos? Doenças,
perda de mobilidade, mudança de aparência e de comportamentos só acontecem na
velhice?
Em contrapartida a isso e agravando ainda mais a crise, as
empresas de cosméticos, cremes, rejuvenescedores, sucos, comidas, ervas, aromas
e uma multidão de milagres que adiam a velhice, crescem e se proliferam. Nas redes
sociais, o que se vê é a meia idade gritando que não está mal e que tudo vai
bem. É de fato uma perda de identidade onde as pessoas não sabem mais quem são, vivem e se comportam como se daquela idade não fossem. Os quarentões parecem
adolescentes e os idosos parecem quarentões. Um simples pronome de tratamento,
como Senhor ou Senhora gera uma crise e o dia se perde ali.
Festas e mais
festas, noitadas, corpos à mostra, tattuagens, músculos, risos, plásticas, silicones, maquiagens, amigos,
qualidade de vida, sexo e juventude, tudo isso postado em redes sociais atesta
a dura realidade de que, antes de tudo, não envelhecer é estar bem e em paz consigo
mesmo. Atesta que, juventude antes de ser comportamento, é um estado de
espírito. Atesta que, não lidar bem com a idade, com as dores e as delicias que
ela traz, pode ser um forte indício de crise e crise da meia idade. Lá no
fundo, bem escondido com os nossos valores, não podemos perder o compasso do
tempo e esse não é nosso inimigo: é nosso aliado.
Paulo
Veras é
psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, pedagogo, escreve e faz
palestras, especialista em educação especial e inclusiva, especialista em
docência do ensino superior e professor universitário em Goiânia-GO.
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