Quando pensamos em quem somos, é inevitável que pensemos em
quem nos tornamos. Somos frutos de uma construção e de um processo de
desconstrução que é feito diariamente, a todo instante, em todo o tempo.
Descobrimos que não somos o que éramos, mas não somos ainda o que gostaríamos
de ser: isso é um processo que vai nos criando e nos ressignificando. Assim,
vamos gostando ou não, cada vez mais da pessoa que vamos nos tornando.
Tornar-se alguém, não se trata apenas de crescer
fisicamente, de pintar os cabelos, fazer dieta ou ir treinar na academia.
Tornar-se o que se deseja, é preciso crescer na alma, se ajustar criativamente
e sentir-se bem consigo mesmo. É o ato de olhar-se nos olhos de vez em quando,
de se interrogar e auto refletir. É aceitar os erros, refazer o plano e seguir
em frente. Apesar das escolhas e das decisões tomadas no passado, ter sempre
bem claro, que se tornar o que se deseja é um risco, é cansativo e exaustivo.
Nossos conceitos mudam e a nossa visão amplia. Nesse
processo há muros que nos privam de muita coisa mas há muitas pontes que nos
levam a outros mundos. Vamos construindo umas marcas, vamos ganhando outras e
em todas elas os arranhões ficam. Os machucados são inevitáveis e as cicatrizes
vão se tornando peles da resistência e isso nos torna mais forte do que erámos há
um tempo atrás.
Vamos criando o nosso estilo de ser e de viver. Algumas
opiniões não tem mais importância e aquilo que magoava antes, hoje não incomoda
nenhum pouco. Isso é auto estima e ela vem com tempo e com as experiências que
vida vai nos ofertando. Isso nos leva a
entender e aprender a ficar mais perto do nosso ideal e a distanciar do ideal
do outros. Este ideal, tanto faz. É com o tempo que vamos aprendendo a dar
satisfações a nossa consciência e vamos descobrindo que ela nem dói tanto. Vamos
não tendo mais vergonha da simplicidade que temos e do que conseguimos
construir.
As pessoas que passam pela nossa vida ajudaram também a nos
tornar quem somos. Do mesmo modo, as pessoas que se foram também ajudaram neste
crescimento Isso nos ensina que nenhuma companhia é eterna e nenhum lugar é o
único, dessa feita, o importante é aproveitar o momento ao máximo. São com
pessoas do nosso lado é que vamos dando valor aos nossos sonhos e perseguindo
as metas que colocamos para esta construção. Vamos descobrindo quais são os amigos
verdadeiros, aqueles que vamos levar pra toda a vida e isso não quer dizer, que
não vamos encontrando novos bons e verdadeiros amigos pelo caminho.
Nosso crescimento nos permite pisar em outros mundos. Permitimos
que outros mundos pisem em nosso território também. A auto confiança vai nos
tornando mais flexíveis, mais maleáveis e mais resilientes. Aprendemos a ser mais
reservados, a expor menos a nossa individualidade, bem como a expor menos o
outro e as suas dores. Vamos entendendo a importância de conhecer pessoas, de
abrir novas oportunidades com elas e a compreender que uma pessoa pode
significar muito para o nosso futuro.
Vamos tomando consciência que somos o resultado dos
machucados, dos banhos de chuva e dos resfriados. Somos frutos das brincadeiras
de ruas, da primeira viagem sozinho, das vacinas que recebemos, das canções que
cantaram pra nós e das canções que aprendemos a cantar. Nos tornamos quem
somos, através do primeiro emprego, dos professores que tivemos e das mortes
internas que somente nós, sentimos a dor.
Somos o resultado de dificuldades diárias, de conquistas difíceis
e de muitas frustrações. Somos o que somos, porque somos frutos da influência
da família dos amigos, das pessoas que nos rodeiam e dos amores que construímos
ou que deixamos de construir. Somos também, um pouco de decepções, de lágrimas
e de risos. Nos tornamos na maturidade inevitável que a vida oferece e esta
maturidade nos ensina a nos incomodar menos com o que os outros pensam sobre nós e
mais com o que pensamos sobre nós mesmo. Somos um pouco da frieza das rejeições
e um pouco da dureza das pancadas que nos deram. Mas que bom, que ainda assim,
somos candura, aceitação e leveza.
Chegar a ser o que se deseja é um caminho que
se deve percorrer, às vezes sozinho, muito pouco acompanhado. Ser o que se
deseja é também uma escolha nem sempre fácil, nem sempre tranquila, mas recompensador.
É um caminho que de orgulho próprio, que destoam de todos os outros
mas que é o seu caminho. É a descoberta de planos grandes, de vontades incompreendidas. É uma construção única, feita de metades e de
completos. Feito de ser, com todo o ser.
Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, pedagogo,
escreve e faz palestras, especialista em educação especial e inclusiva,
especialista em docência do ensino superior e professor universitário em
Goiânia-GO.
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