terça-feira, 20 de agosto de 2013

BOA NOITE MARILENE


Sentia-se mais caseiro e as vontades de sair com os amigos haviam diminuído bastante. Guardava em casa catalogados em pastas, todos os recortes de jornais a respeito do ultimo assassinato, ocorrido há 6 meses. Talvez por isso, preferia permanecer em casa, tendo apenas como rotina, ir de casa para o trabalho e suas leituras de ficção acompanhadas de muito café.

Naquela manhã ensolarada de maio, o outono de domingo fez com que ele acordasse disposto a ir à missa, coisa que não fazia há anos. Tomou banho, colocou sapatos pretos, camisa manga longa creme e calça jeans. Preferiu algo mais despojado. Durante a semana, considerava-se formal demais. Comeu um pedaço de pão adormecido molhando-o ao leite gelado e foi tomar ônibus. Era domingo e decidiu comungar.

A catedral da cidade lhe trazia um misto de recordações boas e más. Era lá que ele comia as hóstias que sobrava da missa, mas era lá também que sua mãe o obrigava a contar, rezando, as 150 bolas do terço. Repetições sempre o deixava mal. Contemplou de longe a porta da igreja, ouvindo os coros beneditinos e adentrou. Sentou-se no último banco. De lá, tinha uma visão privilegiada de todo o santuário

Sua atenção foi incomodada, pela jovem com uma aparência sóbria, séria, comprometida com a missa e que deveria ter 30 anos em seus cálculos. Cabelos encaracolados, despontados, negros e sedosos. Vestidos adornados e no dedos, nenhum anel. Nas mãos, um terço de metal amarelado, com bolas grandes e uma cruz dourada, exagerada no tamanho. Parecia pesado! Pensou que seria uma irmã, mas não tinha véu nem usava hábito. No terceiro domingo consecutivo, notou a presença dela, imóvel, no mesmo lugar e admitia-se numa posição tentadora.

Resolveu esperar pelo fim completo da liturgia. Ficou sentando, enquanto observava todos saírem, um a um, inclusive ela, com seu terço reluzente. Não suportou e aproximou-se no pátio da igreja. Apresentou-se, elogiou seu comportamento e disse que desde três semana atrás, aquela era a sua igreja. Por sua vez, Marilene, sorriu, timidamente agradeceu e depois de um tempo de conversa, revelou sua intenção em ser freira, e por isso mesmo, ainda era virgem. Ficou surpresa, quando descobriu que ele tinha sido coroinha daquela igreja, porém desistido de ser padre.

Almoçaram juntos a convite dele na sexta feira seguinte. Sorriram, conversaram e rezaram juntos por todo o mês seguinte. Por insistência dele, começaram a rezar todas as quintas feiras a noite, pois era o único dia que a igreja era fechada à visitação. 

Estava tentado a não ir naquela quinta. Sentia-se inquieto, talvez pelo excesso do café da noite anterior e sabia que não ia concentrar-se em suas orações. Mesmo atrasado foi. Chegando nos fundos, Marilene já rezava, de joelhos, como sempre o fazia. Reparou pela primeira vez que aquilo o excitou.

Tirou os sapatos, colocou luvas simples, e delicadamente entrou. De posse do terço, deu-lhe duas voltas no pescoço até ficar completamente desmaiada. Em seus braços, levou-a ao fundo da Igreja, com um pedaço de tecido, entupiu-lhe a boca até perder completamente a respiração. Certificou-se que estava morta e com paciência e um sorriso, colocou uma a uma as bolas do terço em sua vagina. Ao final, segurando na cruz, que balançava de fora, disse: "Boa noite Marilene".


Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e professor universitário em Goiânia-GO. 

10 VERDADES SOBRE A VIDA QUE NÃO PODEMOS ESQUECER

  1 – Todas as pessoas que você ama vão morrer, inclusive os seus pais. Por isso valorize-os e aproveite o momento que estiver com eles. 2...