Embora seja difícil o desamparo é uma
experiência fundamental e faz parte da condição humana e é, em torno dela, que
se constitui a posição de sujeito no mundo. O desemparo com as suas diferentes
vulnerabilidades impostas é que faz o desafio de se trabalhar com a falta, e assim,
o vazio se faz necessário.
É fácil entender que não fomos educados para
trabalhar com a falta. Fomos ensinados, que para nos sentirmos bem, precisamos
ter o chão da segurança sob nossos pés e este é um dos motivos que nos fazer
ter pavor do desamparo.
Basicamente, em outras palavras, só mudamos
quando a realidade em que estamos é de fato insuportável. Ainda assim, para que
não possamos sair dela, entramos facilmente em um processo de neurose, ficando
em um ciclo de repetir os mesmos fatos, ter prazer nos mesmos erros e ainda
reviver as mesmas situações dolorosas e traumáticas. Para isso, haja mecanismo
de defesa para não admitir toda essa problemática, sempre buscando contornos
prazerosos nisso tudo.
É natural, portanto, que sempre estejamos
buscando prever esta condição de desamparo: cercamos de um lado; buscamos
colocar anteparos de outro; negamos um pouco ali; fingimos outro tanto ali e
assim vamos levando a vida. Todos estão diretamente implicados, embora todos
estejam também negando essa implicação, tentando se isentar cada um de suas
responsabilidades por suas escolhas e suas consequências. No fundo, todos
querem a garantia da previsibilidade para evitar o desemparo.
É preciso não ter medo do vazio, do desemparo,
da solidão. É preciso se permitir desfrutar os benefícios que estar sozinho
pode trazer. Mas é preciso também, depois de adquirir tal liberdade,
suportar-lhe o peso.
Paulo Veras é mestre em educação, psicólogo clínico e
organizacional, psicanalista, pedagogo, escritor e faz palestras, especialista
em educação especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e
professor universitário em Goiânia-GO