Com certeza, cada um de nós conheça uma pessoa que já tenha se
decepcionado. É provável, que você já tenha se decepcionado e quem sabe, não apenas
um vez. A decepção faz parte do nosso crescimento como ser humano e é
inevitável, que durante a nossa vida, não passemos por isso. Não há nada de
novo nesse processo. Novo, deve ser, o que fazemos, quando somos decepcionados.
Crescemos com algumas ideias que nos ensinaram e elas tendem se fixar em
nossa formação: de que não vamos nos frustrar, que vamos conhecer o par
perfeito, que teremos os melhores amigos, o melhor emprego e a família
perfeita. E isso pode mesmo acontecer. Porém, precisamos entender, que na vida
real, as nossas histórias apresentam alguns desvios e que quase sempre, esta
estrada não será da forma como desenhamos e isso dói muito. A isso, chamamos de
decepção.
Claro que a felicidade existe. Claro que temos chances de realizar
grande parte dos nossos planos. Por outro lado, precisamos aprender também, que
a frustação e a decepção existem e que é grande a possibilidade de nos
encontrarmos com elas e aprender a lidar com essas dores, custa caro. No momento em que
concebemos a decepção como parte da vida e retiramos o poder que ela tem sobre nós,
a dor que ela nos causa, é bem menor.
Se podemos dizer
que há algo de positivo quando nos decepcionamos, é o fato de que é com elas,
que conseguimos aprender a lidar com consciência com aquilo que desejamos e com
aquilo que nos relacionamos. Posturas assim, nos fazem mais fortes e aptos para
criar soluções e para sairmos menos feridos daquilo que nos decepcionou. Alguns
hábitos que mantemos, algumas amizades que alimentamos ou até mesmo relações amorosas
que insistimos em manter, são ferramentas muitos férteis para a decepção. Mudar
isso tudo nem sempre é uma questão fácil de se resolver. Para isso, sempre
criamos algumas expectativas e quando elas não são atingidas, acabamos por nos
decepcionar.
Uma maneira viável
que temos para sofrermos menos com as decepções, é não romantizar nossos atos e
o que nos rodeia. Geralmente corremos o risco de
idealizarmos as pessoas para que sejam o que queremos que elas sejam. Perceberemos
então que esperamos muito de alguém, mas esse alguém não pode e não consegue
ser o nosso ideal. Nossas escolhas
não devem ser pautadas na questão sorte ou azar. As decisões que temos que
tomar para a vida, devem ser feitas de maneira mais racional possível. Precisamos
fazer as contas das escolhas que vamos fazer. Com isso, precisamos entender que
parentes e família vão nos decepcionar; os amores com o tempo vão se
desapegando e ainda há os que nos deixam; os nossos sonhos e metas não vão fazer
sentido para muita gente e isso faz com que eles não se comprometam com eles.
Nem sempre o coração está preparado para tomar algumas decisões e se deixarmos nossas
escolhas apenas a cargo dele, a dor da decepção pode ser maior.
Outro fato a ser
considerado, é que falar daquilo que sentimos com as pessoas interessadas,
alivia, no futuro, as decepções que podem surgir no caminho. Falar o que sente,
o que se deseja, não se trata apenas de compartilhar seus sentimentos, mas
também para deixar claro quem somos e o que esperamos, com esta relação e
sobretudo para entendermos onde estamos pisando e para onde queremos ir. Falar
do que sentimos, faz com que a pessoas que convivem conosco, entendam também
que elas podem se decepcionar conosco e isso faz com que, cada um de nós, regule
e controle as emoções e sentimentos com que lidamos no nosso dia a dia. Sentimentos
expressos, são sentimentos libertos. Desta forma, é mais fácil seguir em
frente.
A que se considerar também, que é com
as decepções que geralmente aprendemos grandes lições. Claro que nem sempre,
conseguimos percebê-las imediatamente, mas toda experiência que a vida nos
oferece, sendo ela boa ou ruim, leva-nos a um aprendizado e todo aprendizado
deve ter a meta de nos tornar mais maduros e melhores pessoas. Pensando assim,
não é arriscado dizer, que a decepção faz parte do nosso processo de
aprendizado e portanto, não devemos nos sentir vítimas, e sim privilegiados.
São nas situações mais adversas, que temos a oportunidade de aprendermos sobre
nós mesmos e também sobre os demais que nos rodeiam. As pessoas e suas atitudes
podem nos surpreender positiva ou negativamente e isso não conseguimos
controlar. Mas, seja qual for a situação, precisamos tirar dela aprendizado e
experiências. Isso nos poupa de algum sofrimento, além de nos poupar de uma
segunda decepção.
Como parte
mais difícil e também mais importante desse processo é o fato de que
precisamos confiar nas pessoas. Isso não quer dizer que devemos desconsiderar
que elas não falham e que elas podem nos decepcionar. Relacionar-se em qualquer
esfera, exige-se confiança em alguém. É entender que as pessoas não são iguais,
que nós não somos iguais, que estamos o tempo todo em constante mudança e que todos
são suscetíveis a mudar no dia seguinte. Quando queremos, isso acontece. Não
podemos alimentar a ideia de esperar que as pessoas devem mudar como
gostaríamos que elas mudassem. É importante que tenhamos a oportunidade de voltar
a confiar nas pessoas, mas sem esquecer de deixar de lado as grandes expectativas
e as idealizações. Prenda-se à realidade e a decepção será sempre menor.
Portanto, a todo momento precisamos
entender que a decepção é algo natural e que faz parte de um aprendizado. De
todas elas, saia melhor e mais resiliente.
Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional,
psicanalista, pedagogo, escreve e faz palestras, especialista em educação
especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e professor
universitário em Goiânia-GO.
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