A visão e a maneira como passamos a
ver a criança, o infantil, bem como as suas representações, passaram a ser
reveladas por Freud (1907/1976), quando disse que a criança sente tristeza,
solidão, raiva, desejos destrutivos, vive conflitos e contradições, é portadora
de sexualidade, escapa ao controle da educação e “[...] é capaz da maior parte
das manifestações psíquicas do amor, por exemplo, a ternura, a dedicação e o
ciúme.”
Foi a partir de então, que a
psicanálise, traz um novo olhar sobre o ser humano, não como indivíduo
(somente), mas também como marca de um passado, formado e significado pela sua
infância. Sendo assim, a infância não se trata somente de uma fase na nossa
formação, mas nos ajusta e nos marca pelo inconsciente, que é inquietante, impreciso
e em construção.
Portanto, o que acontece na
infância, não fica lá. Algumas marcas permanecem por longos anos e podem
atrapalhar muito a idade adulta. Já pensou, por exemplo, quanta dor temos
guardada, quando decidimos machucar alguém? Ou, já pensou, o gasto emocional
que fazemos para não enfrentar e dar nomes a certas emoções reprimidas, que
acabam saindo em forma agressão e escolhas mal sucedidas? Tem pensando, que os
maus tratos que subjugamos a nós mesmos e aos outros, refletem muito à maneira
como fomos castigados como forma de educação?
O medo de ser abandonado que
vivenciamos na infância, o medo de ser rejeitado, a humilhação a que fomos
submetidos, a falta de confiança, a ansiedade da separação, o medo da traição e
a injustiça, por exemplo, escondem questões mais profundas, sempre associadas à
nossa necessidade constante de acolhimento, aceitação, pertencimento e
importância.
Sobre os fatos do passado não há
anulação, mas é importante saber que podem ser ressignificados. Precisam ser
elaborados para não ser repetidos. Não podemos mudar o que passou, mas podemos
modificar o que está por vir. Quem manda no adulto é a criança e é sempre bom
que a criança seja bem educada e que não aja pelo impulso.
Paulo Veras é mestre em educação, psicólogo clínico e
organizacional, psicanalista, pedagogo, escritor e faz palestras, especialista
em educação especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e
professor universitário em Goiânia-GO