terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A CRISE DA MEIA IDADE ME ASSUSTA


Envelhecer é inevitável e para a grande maioria das pessoas esse fato é doloroso. Porém numa sociedade que cultua a juventude, isso se torna pior. A sociedade atual usa todos os recursos possíveis para driblar a idade, os anos, as rugas e isso sem dúvida, gera uma enorme crise em algumas pessoas. Um dos fatores mais graves que isso causa é fazer com que olhemos a velhice com certa nulidade. É como se o velho se tornasse uma pessoa inútil, que requer cuidados e que gera trabalhos e dores de cabeça. Na cultura atual é isso que vemos. Na era do descartável, o velho vem perdendo o seu valor.

Tornar-se idoso é antes de tudo uma dádiva. Quem chega nesta fase, é sem dúvida um privilegiado. Mas envelhecer exige dignidade. Porém, antes de chegar a velhice, passamos pela fase que chamamos de Meia Idade e é neste período que entramos em crise, a famosa crise de valores. Nesta fase, o medo acomete tanto homens como mulheres e cada um procura a forma mais leve e menos complicada para viver esta fase. O homem geralmente tenta lidar com seus dilemas de forma individual e a mulher de forma mais coletiva.

Essa crise sempre existiu, mas ela ganhou nome em 1965 pelo médico canadense Elliotti Jaques. Porém foi com a chegada das redes sociais que a evidência desse período de nossas vidas tornou-se mais notório e muitas vezes, constrangedor. Foi o cineasta Woody Allen que disse certa vez, que “A vida é uma doença fatal e sexualmente transmissível,” e essa afirmação nos faz pensar que envelhecer é, portanto, natural e não nos parece saudável lutar contra a inevitável passagem do tempo.

A Gerascofobia é a fobia mais típica da meia idade. Acredite: algumas pessoas tem tanto medo de envelhecer, que sofrem e adoecem com esta possibilidade. Porém quando se é jovem, pouco pensamos que vamos envelhecer e raramente temos medo dessa fase da vida. A juventude é o tempo mais rápido de nossas vidas e, portanto, sempre somos muito imediatistas, rápidos demais. Tudo se resolve na hora e nosso relógio psicológico bate mais acelerado.

É claro que é preciso se cuidar, ingerir alimentos saudáveis, praticar esportes, manter a mente ativa, cultivar o lazer, as amizades e os hábitos que nos fazem bem. Mas não é disso que me refiro. É preocupante o processo maçante de mostrar ao outro que estamos bem, que não estamos envelhecendo, que somos jovens e que o tempo só passou para os outros. Por que temos tanto medo de envelhecer? Será se isso acontece porque, em muitos casos, a velhice está associada a aspectos negativos? Doenças, perda de mobilidade, mudança de aparência e de comportamentos só acontecem na velhice?

Em contrapartida a isso e agravando ainda mais a crise, as empresas de cosméticos, cremes, rejuvenescedores, sucos, comidas, ervas, aromas e uma multidão de milagres que adiam a velhice, crescem e se proliferam. Nas redes sociais, o que se vê é a meia idade gritando que não está mal e que tudo vai bem. É de fato uma perda de identidade onde as pessoas não sabem mais quem são, vivem e se comportam como se daquela idade não fossem. Os quarentões parecem adolescentes e os idosos parecem quarentões. Um simples pronome de tratamento, como Senhor ou Senhora gera uma crise e o dia se perde ali.

Festas e mais festas, noitadas, corpos à mostra, tattuagens, músculos, risos, plásticas, silicones, maquiagens, amigos, qualidade de vida, sexo e juventude, tudo isso postado em redes sociais atesta a dura realidade de que, antes de tudo, não envelhecer é estar bem e em paz consigo mesmo. Atesta que, juventude antes de ser comportamento, é um estado de espírito. Atesta que, não lidar bem com a idade, com as dores e as delicias que ela traz, pode ser um forte indício de crise e crise da meia idade. Lá no fundo, bem escondido com os nossos valores, não podemos perder o compasso do tempo e esse não é nosso inimigo: é nosso aliado.


Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, pedagogo, escreve e faz palestras, especialista em educação especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e professor universitário em Goiânia-GO.

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