segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

PAÍS FULECO

Confesso que fiquei com vergonha, quando vi na mídia, que o nome do mascote da copa do mundo do Brasil, chama-se Fuleco. Pensei que tinha escutado mal, mas é isso mesmo: Fuleco. Minutos depois, fico sabendo, que essa escolha, foi decidida pelo povo, que escolheu o nome, entre mais opções, tão idiotas quanto este. A explicação para o nome, segundo a mídia, é que foi feita a junção de futebol com ecologia. Continuo com vergonha.

O resultado dessa escolha, ao meu ver, reflete dois fatos tristes, porém reais em nosso país. Primeiro, identifico o alto índice de ignorância do nosso povo. É notório o quanto a educação faz diferença na história de qualquer nação. Desconheço qualquer país, que tenha se desenvolvido e que não tenha a educação como principio de vida. A educação muda a história do povo. E logo, sendo este povo ignorante, torna-se fácil manipulá-lo. Torna-se alvo fácil para o pão e o circo.

O segundo ponto que vejo nessa escolha é que ele revela de fato uma realidade, uma triste realidade, posta a todos, sábios e tolos, ricos e pobres. De fato este é um país de fulecos. Acredito que quem votou (quem votou?), esqueceu de buscar o significado desta palavra, uma vez que ela não foi criada exclusivamente para a copa do mundo, como tenta dizer a mídia manipuladora. Mais uma vez, a ignorância vence.

Entre outros, a palavra fuleco é uma variação de fuleira, fuleragem entre outras variações. Esses termos são bem conhecidos no nordeste brasileiro e possui os seguintes significados: coisa ruim, de baixa qualidade, inferior, incapaz, duvidoso, tóba, rabo, anus, fiofó, rosca, roela, boga, cu, furreco, medíocre, descarado, fuleiro, ladrão, corrupto.... Nada mais natural para representar a nossa realidade. 

Nesse pais, a saúde é fuleca. Não há hospitais, vagas, ambulâncias, médicos, remédios, estrutura física, salários e por ai vai. Falta desde o garrote à maca. A educação também é fuleca. Não há escolas suficientes, o ensino é medíocre, o IDEB é falso, o MEC não funciona, as escolas são assaltadas todos os dias e as que sobram, não educam nem ensinam mais, os professores não são remunerados como deveriam e em sua maioria, a educação que existe, atende ao capital desenfreado no sistema fast food. A segurança não é diferente: também é fuleca. Não temos sistema penitenciário que resolva, não há vagas, há policiais de menos e bandidos de mais, a corrupção impera, as condições de trabalho são desumanas e o povo, em sua maioria, que é fuleca, paga o preço.

E o que dizer da política desse país? Como lidar com ela, onde a maioria absoluta é de fulecos, preocupados apenas com seu próprio interesse! Honestidade virou raridade e encontrar algum homem honesto que integre a política desse pais, torna-se uma atividade quase impossível. E a cultura? Em sua maioria é fuleca também. Ouvimos o que não presta, cantamos o que não sabemos o que é, e qualquer batida, torna-se primeiro lugar nas paradas de sucesso. Não há incentivo a leitura nem ao pensamento crítico, criativo, e assim, vamos sendo frutos de programas enlatados e manipuladores.

Mas é exatamente disso, que se faz um país de fulecos. É exatamente, essa massa que tem a capacidade de votar e eleger como mascote para uma copa do mundo - com um orçamento que não é fuleco - um tatu que tem por nome sua própria identidade. Cérebros de tatus! Assim se cria fulecos: pouca educação e muito futebol; muito circo e muito pão. E são esses, que farão de tudo, para pagar o ingresso do jogo, para poder ver a obra, fruto de sua ignorância e ainda poder dizer: tenho orgulho de ser brasileiro!

Me ponho a pensar e pergunto, do que se faz uma nação, não de fulecos, mais de cidadãos que criem seu próprio futuro, que pensem na sua formação educacional e que querem deixar para seus filhos, muito mais do que estádios e renda cidadão. Pergunto, como pode um pais, crescer e se desenvolver, com fulecos, desde os que votam até os que são eleitos. 



Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e professor universitário em Goiânia-GO. 

domingo, 24 de novembro de 2013

PESSOAS BAMBU

O Bambu é uma planta tropical, leve, que não necessita de reflorestamento constante. É bonita por fora, serve-se a muitas fabricações além de possuir uma rapidez incrível de crescimento e de aproveitamento de área no seu plantio. O bambu oferece uma sombra razoável e é divida em várias famílias. Acontece que o bambu é vazio por dentro. Ele é movido facilmente pelo vento, levado de um lado para o outro porque não possui nenhum peso por dentro, é oco.

Você conhece pessoas assim, pessoas bambus? São pessoas, que como diz o velho ditado popular, “por fora é bela viola mas por dentro é pão bolorento”. Não tem nada a oferecer em sua essência, em seu interior. São leves demais, superficiais demais e não tem muito a oferecer a não ser uma estética fabricada.

No que se refere ao lado profissional, são tão instáveis, tão inseguras e quase nunca se firmam no que querem ou provam para o que vieram. Não se profissionalizam, vivem de bicos, nunca sabemos ao certo o que fazem, nem onde estão. Não imprimem sua marca no que fazem. Não tem seu nome associado a algo que de fato fez diferença ou não associamos sua imagem a algo positivo. Sua vida profissional resume-se a promoção pessoal momentânea e não a segurança e futuro. O que elas fazem? Eu cansei!

No que se refere ao social continuam bambus, horizontais demais, volúveis. Resumem-se às baladas, às redes sociais, aos #chateado ou #balada. Não possuem verticalidade. Afinal o que tem para oferecer uma pessoa bambu? Há tanta necessidade mesmo de oferecer aos outros sua estética e o seu verde conceito de vida? Não possui opinião formada sobre quase nada e não conseguem formular uma frase e interpretá-la. No geral, confundem informação com inteligência e por conta do advento da internet, pensam que são formadores de opinião. Hoje, funkeiro ensina como educar filhos, modelos de personalidade duvidosa ensinam fidelidade e as novelas ensinam o modelo de família ideal. Cansei!

Suas amizades resumem-se a outros bambus. É assim mesmo, o bambu raramente nasce debaixo de árvores que não são de sua espécie. Resumem-se aos mesmos comportamentos, ideologias e visão de mundo. Estão muito mais ligados à embalagem do que ao conteúdo. Quem planta bambu no quintal, está mais preocupado com a sombra que ele trará e o barulho que será ouvido quando chegar o vento do que com seu valor de produção.

Notem que pessoas bambus não nos oferecem muito. Elas nos cansam rápido demais. Não convence. Não nos toma em sua essência e estar com elas teremos no máximo uma sombra, caso haja um sol maior por cima. Sabe quando preferimos ter o presente e não o presenteador. Então...

Mas o mais interessante, é que uma hora o bambu não resiste ao tempo. A árvore frondosa e verde vai se tornando amarela e seca, sem folhas, sem atração, sem cheiro, sem vida. É, o tempo passa, os anos vem e assim como o bambu, também vamos sofrendo o efeito das modas, dos tempos, dos vícios, das curtidas e dos comportamentos ocos e vazios. Na vida, o que sobre é o que somos e não o que temos. Pessoas bambus precisam entender que dignidade é medida por dentro e não pela estética. Precisam entender que o valor de uma árvore é medida pelo seu caule e não pelas folhas ou pela sua frondosa sombra. Afinal, o que é uma pessoa bambu?

E por fim, uma pergunta interessante: você conhece o fruto que o bambu oferece? Qual sua estação? Há flores em sua primavera ou há frutos em seu outono? Eu desconheço! 

Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e professor universitário em Goiânia-GO. 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

BOA NOITE MARILENE


Sentia-se mais caseiro e as vontades de sair com os amigos haviam diminuído bastante. Guardava em casa catalogados em pastas, todos os recortes de jornais a respeito do ultimo assassinato, ocorrido há 6 meses. Talvez por isso, preferia permanecer em casa, tendo apenas como rotina, ir de casa para o trabalho e suas leituras de ficção acompanhadas de muito café.

Naquela manhã ensolarada de maio, o outono de domingo fez com que ele acordasse disposto a ir à missa, coisa que não fazia há anos. Tomou banho, colocou sapatos pretos, camisa manga longa creme e calça jeans. Preferiu algo mais despojado. Durante a semana, considerava-se formal demais. Comeu um pedaço de pão adormecido molhando-o ao leite gelado e foi tomar ônibus. Era domingo e decidiu comungar.

A catedral da cidade lhe trazia um misto de recordações boas e más. Era lá que ele comia as hóstias que sobrava da missa, mas era lá também que sua mãe o obrigava a contar, rezando, as 150 bolas do terço. Repetições sempre o deixava mal. Contemplou de longe a porta da igreja, ouvindo os coros beneditinos e adentrou. Sentou-se no último banco. De lá, tinha uma visão privilegiada de todo o santuário

Sua atenção foi incomodada, pela jovem com uma aparência sóbria, séria, comprometida com a missa e que deveria ter 30 anos em seus cálculos. Cabelos encaracolados, despontados, negros e sedosos. Vestidos adornados e no dedos, nenhum anel. Nas mãos, um terço de metal amarelado, com bolas grandes e uma cruz dourada, exagerada no tamanho. Parecia pesado! Pensou que seria uma irmã, mas não tinha véu nem usava hábito. No terceiro domingo consecutivo, notou a presença dela, imóvel, no mesmo lugar e admitia-se numa posição tentadora.

Resolveu esperar pelo fim completo da liturgia. Ficou sentando, enquanto observava todos saírem, um a um, inclusive ela, com seu terço reluzente. Não suportou e aproximou-se no pátio da igreja. Apresentou-se, elogiou seu comportamento e disse que desde três semana atrás, aquela era a sua igreja. Por sua vez, Marilene, sorriu, timidamente agradeceu e depois de um tempo de conversa, revelou sua intenção em ser freira, e por isso mesmo, ainda era virgem. Ficou surpresa, quando descobriu que ele tinha sido coroinha daquela igreja, porém desistido de ser padre.

Almoçaram juntos a convite dele na sexta feira seguinte. Sorriram, conversaram e rezaram juntos por todo o mês seguinte. Por insistência dele, começaram a rezar todas as quintas feiras a noite, pois era o único dia que a igreja era fechada à visitação. 

Estava tentado a não ir naquela quinta. Sentia-se inquieto, talvez pelo excesso do café da noite anterior e sabia que não ia concentrar-se em suas orações. Mesmo atrasado foi. Chegando nos fundos, Marilene já rezava, de joelhos, como sempre o fazia. Reparou pela primeira vez que aquilo o excitou.

Tirou os sapatos, colocou luvas simples, e delicadamente entrou. De posse do terço, deu-lhe duas voltas no pescoço até ficar completamente desmaiada. Em seus braços, levou-a ao fundo da Igreja, com um pedaço de tecido, entupiu-lhe a boca até perder completamente a respiração. Certificou-se que estava morta e com paciência e um sorriso, colocou uma a uma as bolas do terço em sua vagina. Ao final, segurando na cruz, que balançava de fora, disse: "Boa noite Marilene".


Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e professor universitário em Goiânia-GO. 

domingo, 21 de julho de 2013

APRISIONADOS PELO PASSADO

E parece mesmo, que Albert Einstein tinha razão, quando disse que a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente. E para algumas pessoas, essa frase tem um sentido muito maior. Elas vivem de todas as formas, regidas pro forças que há muito tempo já ficaram para trás. Elas são aprisionadas pelo passado.

A razão que nos faz ver além das formas eleva o pensamento humano e representa uma força superior à matéria. Cada um dentro do seu mundo estabelece as suas verdade e tenta, através delas, introduzir o seu elemento justificativo o qual pertence a uma ordem de ideias individual.

Coloco-me a pensar, sobre como deve ser a razão dessas pessoas, que deixam de viver o presente, para prender-se a um passado que por certo, não pode mais ser alterado. Não se pode esquecer, que esse passado possui verdades e virtudes, que já foram dissolvidos com o tempo e pelas oportunidades que surgem à todo instante em nossa volta.

Seja num amor que não se consumou ou no amor que se consumou mas não durou. Quem nunca teve um "amor" que deveria ter tido vida ou um "amor" que não deveria ter surgido? Quantos de nós, perdemos no passado algum valor que mesmo com os anos que virão, não os teremos de volta. Talvez seja uma dor moral, talvez seja um familiar, talvez seja uma conquista, quem sabe uma dor espiritual que necessite de perdão.

Sabemos que somos imersos em sentimentos e saudades que nos alteram a consciência, em valores que ressuscitam medos e descobertas. Mas o presente está ai! Ter tido a chance de viver um novo presente, significa caminhar adiante, significa fechar ciclos, significa resolver lacunas e claro, significa permitir-se de novo.

Conheço pessoas, que se libertaram desse passado e hoje, descobriram um novo momento de suas vidas. E é notório, o quanto estão mais felizes, mais autênticos, mais verdadeiros e seguro em suas demandas. A libertação de um passado amargo e sombrio gera em nós, mais saúde, mais risos, mais amigos e claro, uma autoestima sem igual. 

Não é exagero dizer, que as pessoas que convivem com o seu passado de forma saudável, até adoecem menos. Nosso corpo, responde a todas as nossas dores emocionais e grande parte delas, são eliminadas quando vamos nos libertando daquilo que nos aflige, e nos aflige há anos.

E você, já pensou o quanto tem mentido pra você mesmo sobre o seu passado? Já pensou o quanto tem dito que perdoou e esqueceu, quando na verdade engole diariamente  o fel de um passado que não passou? Já pensou o quanto poderia ser feliz com aquele novo amor, se acreditasse pra valer, que aquele que passou não é seu e não será mesmo? Já parou pra pensar, que muitas vezes, você poderia conviver melhor com isso que tem, ao invés de lamentar o que não tem e não vai ganhar?

Pense nisso. Liberte-se!

Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e professor universitário em Goiânia-GO. 

quinta-feira, 7 de março de 2013

ONDE ESTÃO NOSSOS HERÓIS?


Nossos "heróis" estão morrendo?!

Me preocupa ver jovens e adolescentes cada vez mais idolatradores de artistas, homens e mulheres que não tem muito ou quase nada  a oferecer. Seus "heróis", morrem de overdose, se suicidam, batem nos pais, são presos, fazem músicas com apologia à depressão, à anarquia, ao consumismo, ao desrespeito, ao uso de drogas lícitas e ilícitas, ao sexo fácil e barato, ao nada, ao português chulo e à bizarrice (do funk ao sertanejo). Seus "heróis" quase sempre não defendem o bem, a educação, a família, os princípios. Quase sempre seus "heróis" não possuem nada disso. Só lhes ensinam o que não presta e é o que por certo vão lhes matar também. 

Não me diga que: "Eu só curto, a música, o som, a coragem e a arte que eles fazem". Somos construídos e constituídos por aquilo que ouvimos, fazemos, admiramos, acreditamos, defendemos... é isso que somos, mesmo que tenhamos letras de impacto e um discurso radicalizador! Usar drogas, ser "diferente", fazer o que der vontade, ir contra conceitos prontos, fazer musicas com letras de impacto... é ser "herói"? Pensar que estar arrazando e se achar o máximo é exatamente fazer o que?

Não nego os seus valores enquanto artistas, enquanto construtores de conceitos em sociedade e delimitador do tempo em que existiram. Mas não posso negar também, que cada vez mais construimos uma sociedade que caminha para o nada, para o caos e grande parte desse material construtivo, é absolvido desses "heróis" que estão na mídia, com o poder da palavra e da persuasão. É natural que hoje, os pais sejam substituidos pelo video game; a leitura de um bom livro, seja trocada pela batida inebriante do funk; o velho e bom bate papo sobre referências, sejam trocadas pelas horas na internet e até mesmo o brincar, foi trocado pelo frenético ardor do capitalismo selvagem.

É lamentável ter que admitir, mas um país que classifica-se em 55º lugar na educação mundial, onde necessidades básicas de sua sociedade, com saúde e saneamento não existem; onde gastamos muito mais com carnaval e  micaretas, possam de fatos construir "heróis" como estamos acostumados a ver. É neste mesmo país, onde leiloa-se a virgindade; onde ficar confinado numa casa, subemtendo-se a prova esdrúxulas é ser "herói"; onde mostrar as partes íntimas em uma faculdade é requisito para se tornar celebridade; onde família é produto descartável; onde a mulher vira fruta, onde propaganda de bebida é mais veiculada do que propaganda de educação; onde achar dinheiro na rua e devolver ao dono é algo extraordinário; onde professor é demitido quando reprova um aluno que não sabe ler; onde ler e escrever é ser alfatizado; onde fazer "gato" da tv a cabo é motivo de comemoração... é esse país onde os "heróis" podem tudo.

Não pense que estou dizendo o contrário, de que é justamente com as diferenças que se fortalece a democracia. E é na democracia que podemos pensar sempre que tipo de valor estamos criando em sociedade. Estou dizendo, que essa mesma democracia nos permite ser "essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". Estou lembrando com isso, que nesta mesma democracia não se deve generalizar ou marginalizar a sua diveridade cultural. Contudo, não se deve fazer uma prisão (como era antes) nem tão pouco um parque de diversões (como o é agora).

Talvez precisemos repensar o conceito do que é ser herói. O momento de repensarmos o conceito de família é agora. Não estou me referiando ao modelo tradicional somente, mas ao sentido moral da palavra. É bom pensarmos um pouco, e assim refletirmos, sobre o que estamos ouvindo, sobre o que chamamos de ídolo, sobre o que são valores morais e éticos, sobre concepções a respeito de drogas, liberdade, civilização, educação, respeito entre tantos outros. Acima de tudo pensarmos que tipo de heróis queremos para um futuro próximo.

Onde estão nossos heróis? O que queremos ser quando crescer? Que exemplos estamos tomando para a vida? Quais são nossas referências? Vale parar e pensar um pouco sobre que valores são esses. 


Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva e professor universitário em Goiânia-GO.  

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

CARTA À MINHA JUVENTUDE

Sabe, hoje quando olho no espelho, vejo impresso as marcas de uma juventude, ali, bem perto, que há não muito tempo atrás ainda há. Ela permanece viva, como num estado de graça, que é preciso se renovar todo dia. Não pensem que estou velho. Tenham certeza no entanto, que tudo passa depressa demais e o que era, em 24h não importa mais.

Hoje percebo com mais força, que um sorriso muda muito. Quase tudo. Que sorrir faz muito bem em especial quando gostamos das pessoas. Eles cativam e quem sabe, eu tenha aprendido isso um pouco tarde. Não sorrir, sem duvidas é uma das piores bobagens que cometemos na vida, em especial na juventude. O sorriso nos deixa bobo por uns minutos, por umas horas, por uns dias talvez... e estar bobo, é entrar em um estado de graça, de êxtase. Os bobos vivem bem mais felizes. 

Sabe juventude, eu devia ter me apaixonado mais. Bem mais! Bem mesmo. Ter arriscado mais. Me refiro às paixões pela vida, pelas descobertas, pelo simples, pelo descomplicado. Apaixonado pelas pessoas, pelas histórias... Tanta coisa maravilhosa passou à minha volta e eu não vi, deixei ir embora, porque me faltou um olhar de paixão por elas. Muitos fatos bons se foram, e eu não os contei, não dividí, não repartí e eu acabei os perdendo. Quanta tolice! 

Olha juventude, quando se tem a sua idade, somos bem mais egoistas, do que somos agora. Reconheço hoje, que me prendí mais ao que eu tinha, do que ao que eu era. Haviam preocupações tão desnecessárias; cuidados tão fúteis; eram julgamentos infundados e com isso, deixei de viver mais intensamente essa vida. Foi rapido demais que você se foi! Nem nos despedimos. Eu queria mesmo juventude, era ter tido mais amigos, para hoje, com o peso dos anos, poder partilhar alguns fardos que pesam bem mais do que na sua idade. Alguns amigos que tive, não me levaram no colo, não foram comigo ao hospital, não choraram os meus lutos e não dividiram a minha dor. Acredite juventude: é bem mais fácil ter esses amigos hoje do que na minha época. Disso eu posso me gabar! 

Outro pecado que cometi juventude, foi no estudo. Eu sei que podia ter me dedicado mais. Eu devia ter lido mais, aprofundado mais os meus conhecimentos naquilo que descobrí que gostava. Devia ter sido mais vertical e não somente superficial em muitas coisas que realizei. Com isso, poderia ter conseguido muitas realizações, bem mais cedo, que planejei. Hoje, entendo que conhecer sempre um pouco de tudo, é uma atividade que sempre tem que estar por perto. Isso nos livra muito e nos guarda também!

De tudo, algumas certezas eu trouxe comigo. As coisas mudam e nós mudamos juntos. Isso será inevitável sempre. A gente sofre. Ah, como sofre juventude! No seu tempo, isso é mais facil de se lidar. Família, ganha outro significado e mesmo não sendo as pessoas que pedimos a Deus, vamos descobrindo que elas são necessárias pra uma vida toda. Aprendí nesse tempo todo, que constrangimentos vamos ter o tempo todo, em especial nessa etapa da vida. Aprendí juventude, que continuo errando, continuo fazendo besteiras, e muitas, eu ainda não sei porque. Aprendí que não dá pra voltar atrás, mas que é possível ir em frente todo dia. E olha, nós precisamos de um amor na vida. Não esquece disso!

E sabe juventude, te peço que quando chegares onde estou, que ainda saibas sonhar, acreditar, saibas fazer escolhas. Que em tudo que fores fazer, seja o melhor. Que entenda bem cedo, que estar velho é antes de tudo um privilégio! 

Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva e professor universitário em Goiânia-GO.  

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

DISTURBIO ALIMENTAR: ALIOTROFAGIA

Não raro, nos deparamos com síndromes e disturbios, comuns na sociedade contemporânea do século XXI. Algumas delas, está ligada à alimentação ou com o ato de se alimentar. A ela, damos o nome de Síndrome do Pêga ou como queira, Síndrome do Pica ou ainda, Aliotrofagia. Parece estranho, mas este nome, de origem latina, deriva-se do pássaro Pêga, que é um pombo faminto, que tamanha é sua voracidade, ele come tudo o que vê pla frente. Seu habitat é comum em países de clima tropical e/ou mais quente. 

Esse disturbio ou síndrome, gera no ser humano uma compulsão neurótica, fazendo-o, comer as substâncias mais complexas e não comestíveis e digeríveis. Por exemplo: giz, carvão, barro, pedra, colher, moeda, sabonete, tecido, cabelo, botões, excrementos, vômitos entre outros. Além é claro, do fator digestão, há ainda o fator social, uma vez que esse indivíduo exclui-se do convívio social, onde o seu alimento não é compartilhado por todos à mesa. Em alguns lugares do mundo, isso é comum, pois pode ser um fator ligado à tradição de um povo. Suas variações são muitas, subdividindo-se em tipos e quantidades de objetos ingeridos, podendo persistir, por mais de trinta dias.


Eu me ponho a pensar? O que andamos engolindo e que nem sempre conseguimos digerir? A que ponto, estamos doentes, frutos de um processo aliotrófago? Será se não estamos nos calcificando, fruto de uma obsessão por algo que insistimos, mas que não nos faz bem? É necessário nos alimentarmos bem, para que bem possamos viver, psicologicamente falando.


Eu penso, quantas amizades insistimos em manter e elas sempre nos fazem mal? É fato, que quase sempre há algumas amizades que não nos acrescentam nada. O tempo vai, o tempo vem, e não nos tornamos melhores com algumas companhias. Elas sempre são indigestas, nos dão mal estar, nos fazem sofrer muito, nos provocam dores e má digestão. Isso pode durar muito. E quanto "sapo" engolimos de graça, para ser aceito, para fazer parte, para não contrariar...  seja ele do superior, do par, do amigo, do inferior...


E os relacionamentos que não existem mais e continuamos a ingerí-los? Não existem mais em sentimentos, afetos, reciprocidades, sensações, respeitos... mas lá estamos nós a engolí-los dia após dia. Seja forçado pelo meio, pelas pessoas, pela necessidade, pela carência e pelo simples fato de "não consigo ficar só". Isso por certo nos faz muito mal. 

E as dores, incertezas, passados, medos, traumas que ingerimos diariamente e que quase sempre não fazemos digestão deles? Que tipo de alimentação estamos tendo para que termos boa saúde sentimental? Que tipo de providências estamos tomando, para engolir só aquilo que vai nos fazer bem? Por certo, as causas de certos sintomas que estamos sentindo, tem a ver com um comportamento doentio que temos, sem selecionarmos bem o que estamos comendo, sem ao certo saber, nem o que vamos digerir.

 Que tal, pensarmos nisso!?





 

Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva e professor universitário em Goiânia-GO.  

A ANGUSTIA É O ÚNICO AFETO QUE NUNCA ENGANA

  Sim, para Lacan (1962) a angústia é um afeto, embora para ele esteja no campo de uma perturbação e não de um sentimento, pois é o sinal d...