sexta-feira, 23 de abril de 2010

O FIM DA COISAS


Por certo, tudo em nossas vida, chegará no fim, um dia. Essa deve ser uma das poucas certezas que temos na vida. Se isso é certo, é melhor aprendermos conviver com essa perda. A vida tem um sentido quando insistimos em certa etapa da vida e tem outro sentido, muito mais especial, quando abrimos mão de uma etapa e começamos outra.

A vida se constitui de ciclos e são esses, cada um ao seu tempo, que nos faz amadurecer e entender essa mesma vida. São os ciclos e a forma com que eles acontecem que nos faz entender os acontecimentos do viver. É o fim deles que nos faz crescer.

Se perdemos um grande amor, ou o grande amor nos perde, talvez seja essa a maior dor em uma etapa de nossas vidas. Não me refiro ao grande amor eros, mas esse grande amor pode ser o pai, a mãe, o filho, os avós e até mesmo o irmão. Talvez é a mudança de cidade. Mudança de emprego, do velho carro, de casa. Talvez é abandonar a cama de solteiro e agora ter que mudar juntos. Esse corte, representa nosso maior apego, que não será pra sempre. Disso nós já sabemos.

É forte, quando conseguimos ver, que mesmo a amizade que cultivamos anos para fazer, pode acabar e o o grande amigo de ontem, pode vir a ser o estranho que se apresenta amanhã. Se era o bom emprego, que vivemos grande parte da vida nele, dividindo ali, parte de nosso legado, um dia também não existe mais. Só as lembranças de um passado, que nem sempre, traz as melhores recordações.

Talvez o fim, seja a saúde que tanto nos deixava potentes diante das intempéries da vida. Podemos ainda em vida, ter o fim de nossas pernas, talvez de nossos olhos, de nossos tatos e movimentos. O fim de tanta vitalidade, pode estar a um fio e a linha que divide o tempo real para o tempo do fim, é quase imperceptível.

O tempo da juventude, também tem seu fim. Lutamos tanto contra a chegada da velhice, mas é certo que ela vem ao nosso encontro e quase sempre em passos rápidos. É doloroso entender o fim desse ciclo, mas os cabelos logo mudam de cor, a memória sempre falha e a forma comum quase sempre, começa a falhar. É o fim de alguns prazeres, de outros desejos e perder a visão de futuro, torna-se comum, quando esse ciclo morre.

E abrir mão de certos hábitos e valores, que por toda a vida nos acompanhou? Não é fácil. Sempre pensamos que não sobreviveremos sem aquilo. Percebemos que o tempo torna-se mais complicado e a forma de lidar com essa falta, parece incompreensível.

Interessante pensar, que todo início só surge, quando tem-se um fim. Abrir mão de certas “riquezas”, constitui permitir-se descobrir o novo. Assegurar que a mudança acontecerá é uma riqueza que permite com que cada um de nós se constitua como indivíduo. As nossas percepções sobre a vida mudam e precisamos mudar conceitos, comportamentos e não esperar muito, além daquilo que nós mesmos podemos fazer.


É isso. Pensemos no fechar das cortinas.



Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista e professor universitário em Goiânia-GO.

11 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Putz "XARÁ" ... voce some, mas quando aparece vem com tudo eim?

"Assegurar que a mudança acontecerá é uma riqueza que permite com que cada um de nós se constitua como indivíduo. As nossas percepções sobre a vida mudam e precisamos mudar conceitos, comportamentos e não esperar muito, além daquilo que nós mesmos podemos fazer."

Perfeito isto ... quantas perdas já vivenciei ... avós, pai, irmã, amigos, outros parentes queridos e, até mesmo a minha vida, por duas vezes, esteve por um fio.

Confesso que foi com estes momentos que aprendi o verdadeiro valor da vida, o seu significado maior, o seu sentido. As mudanças virão sucessivamente, muitas sem que nos apercebamos no dia a dia ... meus cabelos [os poucos já estão grisalhos, os que antecederam à minha geração, em sua maioria já partiram, enfim, o tempo vai passando e o ontem, ontem mesmo, já está distante e o amanhã não tarda muito. Vivamos o dia a dia em plenitude, em seu maior e verdadeiro sentido.

Suas reflexões são super interessantes ... elas demoram a aparecer mas, para mim pelo menos, elas vêm na hora certa como que encomendadas ...

Obrigado amigo

bjux

;-)

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Paulo
Muito bom e reflexivo o seu texto, por isso é que devemos aproveitar as coisas boas que cada ciclo nos oferece. Os ciclos passam, a vida passa, o importante é estarmos preparados para fecharmos a cortina.
Bjux

Edilson Cravo disse...

Querido Paulo:

A vida é feita de ciclos não é mesmo?Perder faz parte da vida tanto quanto ganhar.Lindo post.Lindo fim de semana,apareça no Lua sumido.Bjss.

Lucad disse...

Veja só: não devemos chorar pela morte, pelo fim. Devemos chorar é pelos que, em vida, deixam de viver. Palavras de Sócrates (O Guerreiro Pacífico).

Bom te ler - principalmente os entretextos que formam seus textos pois terminam sempre trazendo um novo contexto a ser textualizado.

Tenho q aprender a gostar dos dias, a gostar do sol, a gostar de nuvens. Preciso dar um fim à noite, pois como diria Adélia Prado: ... sou bicho de corpo. Sombra terei depois, a mais fria.

Arthur Alter L. disse...

Meu caro,
Faz muito tempo que não passo por aqui. Mas gostei muito dessa postagem. Como filosofo mestrando, essa postagem me felz lembrar de Hegel que afirma que vida é uma sucesso de contrários até encontrar com seu contrário inevitável. Assim como o broto da lugar a flor e a flor ao fruto nas árvores frutíferas, na sucessão da vida um evento dá espaço ao outro.
Grande abraço.

J. M. disse...

Oi Paulo. Bela postagem. Agradeço-lhe a visita no meu blog. E espero que volte mais vezes. De fato, precisamos encerrar ciclos e começar outros em nossas vidas e eu particularmente gosto destas mudanças. Assim, quebramos a rotina. rs. Um forte abraço pra vc e uma semana iluminada.

dand disse...

Paulo, querido e sumido..como vc está menino??
Hehe, pois é, Clarice a diva das palavras depressivas rs. Mas eu gosto de algumas coisas dela.
Olha, siceramente, li seu post e me ajudou a decidir muitas coisas sobre o livro que estou escrevendo viu.Pois a história se trata de uma perda irreparável na vida de um garoto, que o deixa meio desnrteado. E como vc mesmo disse, quando perdemos um grande amor, seja ele qual for, o interior da gente muda. eu acredito mesmo que só somos capazes de mudar interiormente mediante a dor da perda , ou a felicidade da conquista.
Um grande abraço e ótima semana..

Dand.^^

Luis Fabiano Teixeira disse...

Oi Paulo, obrigado pelo ótimo comentário no blog. Sobre perdas: olha, não me acostumo a elas, em hipótese alguma, infelizmente. Mas o seu texto é um ótimo ponto de partida. Abração! P.S. Tem Clarice lá, quando puder, dê uma olhada.

BAU DO FAEL disse...

Em nenhuma fase da vida conseguimos lidar com perdas...

Obrigado pela visita, e pelo comentário deixado...

Volte sempre...

abração

Petro disse...

Oi Paulo, amei sua escrita...bem verdade...A citação a seguir me fez pensar muito sobre a vida, esta coisa rara sobre a qual muitos não param para pensar o seu real valor: "Interessante pensar, que todo início só surge, quando tem-se um fim. Abrir mão de certas “riquezas”, constitui permitir-se descobrir o novo."

Te sigo!

Felipe Ribeiro disse...

Eu gostei da forma como você colocou neste Texto Paulo.Perfeito.

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