segunda-feira, 4 de julho de 2011

A GENTE SE ACOSTUMA...

Já notou como a gente se acostuma facilmente com hábitos e comportamentos? A rotina nos enfada de tal modo, que ela se torna familiar rápido demais e me pergunto como seria nossa vida se tudo que fazemos não estivsse acompanhada da velha e inevitável rotina. Nos apegamos fortemente ao mesmo itinerário, que não mais tê-lo, trata-se de um corte, uma cisão que geralmente dói muito.

A gente se acostuma a dormir tarde, acordar cedo com o mesmo toque no despertador, escovar os dentes quase sem ver, tomar um banho rápido e engolir um café manhã, quando não comemos no trânsito. Acostumamos aos engarrafamentos, aos sinais fechados, às fechadas dos veículos, a ouvir as mesmas músicas, nas mesmas rádios e ao som turbulento do dia a dia.

A gente se acostuma a comer sem tempo, ao mesmo restaurante, sentando na mesma mesa, escolhendo o mesmo cardápio e quando não tem o que já estamos acostumados, nos alimentamos mal. Acostumamos a esperar o outro, a ser complacente com o atraso, a atrasar em nossos compromissos e assim, acostumamos às 24h que passam voando sempre.

A gente se acostuma a engolir sapos, a não receber elogios, a não ser reconhecido, a esticar um pouco mais no trabalho, a fazer as mesmas tarefas e no surgimento de uma nova, sofremos e sofremos... Acostumamos com a mesa no mesmo lugar, o telefone barulhento, o ar condicionado muito frio, às mesmas pessoas sempre do mesmo jeito e com as cobranças sem fim.

Acostumamos a receber um "não", a levar foras, a beijar sem sentimento, a curtir as baladas com o mesmo som, a mesma luz, os mesmos rostos, as mesmas bebidas. Acostumamos a nos "divertir' mal e acostumamos a dizer que foi bom. A gente se acostuma a ficar, ficar... a fingir que ama, a fingir que tá gostando, a ficar sozinho, a conviver com a solidão disfarçada de "estou bem". A gente se acostuma com as pessoas, a não lhes prestar atenção, a nao dar e nem receber carinho.

Nos acostumamos a não dar bom dia, a não sorrir, a não nos comprometer com o outro, a não pensar coletivamente. Nos acostumamos com o medo nosso de cada dia, com a ingratidão comum e diária. Acostumamos a não agradecer por quase nada, a não ver as flores do caminho, nem as lacunas dos concretos. Acostumamos com a política, com a corrupção, com as traições e infortúnios.

Acostumamos a ir ao médico só na emergência, a planejar sonhos que quase sempre não se realizam, à garganta que não sara, a não tomar água o suficiente, aos calos nos pés, à barba por fazer. Uma pena que nos acostumemos com as dores sentimentais, com o dia a dia cinzento e nublado, com a insalubridade de algumas amizades, às dietas sem efeitos e sem fim, aos flanelinhas pedindo notas, às contas que vencem todo mês, aos natais insosos e familiares.

Acostumamos a chorar, só quando perdemos. A dizer eu te amo, quando quem deve ouvir não ouve mais. Acostumamos a dar buquês quando morrem ao nosso lado e acostumamos tanto à vida que nunca vemos a importância de uma pequena flor em vida. 

Acostumamos a acostumar. 


Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva e professor universitário em Goiânia-GO.

11 comentários:

Wanderley Elian Lima disse...

Excelente texto. Vamos nos acostumando, com coisas demais, até perdermos o real sentido da nossa vida.

Paulo Veras disse...

POis é Wanderley. Temos uma vida maravilhosa, pra darmos a ela tão pouco sentido. Abraços amigo.

Unknown disse...

Amei seu texto.Precisamos talvez repensar o automatismo de tudo que fazemos e tentar dar um pouco mais de sentido à vida.Abraço,meu caro.

Anônimo disse...

Muito importanta esse texto de dar valor as coisas, principalment a parte do qual se trata de sentimentos muito importante

Lolita Roro disse...

Adorei o texto,acho que estou tão acostumada a tudo que foi dito que quando eu li, senti vontade de chorar... rsrs muito bom

Wlisses Griffo disse...

É verdade! E o que mais vejo hoje no dia-a-dia é o costume de viver com quem voce não ama

Unknown disse...

Sempre digo que somos capazes de nos acostumar a tudo, inclusive ao que é ruim. Esse mal costume de acomodar-se acaba por nos deixar estanques, na po;cade nós mesmos. Então a vida grita e assustadamente, saímos de nossas dormências.
Tudo que vc escreveu é verdade! E que verdades...
Abraços

Pierre Alvez Chocolates disse...

Muito bom

Anônimo disse...

Paulo,adorei seu texto! A gente já está tão acostumado com tudo isso, que quando resolve fazer algo que é diferente deste cotidiano, fica incompreendido... Isto é "síndrome urbana". Depois de meio século de vida resolvi fazer diferente e sou chamada de "Santa ou às vezes de Bruxa", pois aprendi comer flores, conversar com os animais, coletar sementes para plantar árvores, namorar só quem amo de verdade, rir de mim mesma, andar no meio do mato para fotografar pequenos detalhes da Natureza, tomar banho nua na bica ou no rio, dormir na rede com um céu cheio de estrelas como teto, ouvir música em um velho rádio de pilha, etc. Faço isso mas ainda continuo com alguns costumeiros hábitos, que se enraizaram e que estão muito difíceis de arrancá-los...Estão lindamente descritos em seu texto! Desejo sucesso, saúde, sabedoria e que, não espere chegar meio século em sua vida, como eu, para descobrir o que aprendi.
Abraço carinhoso, da "Santa Bruxa Helena"!

Viajante disse...

Parece-me que vc não está mais postando. Que pena! Adorei o post, mas tenho que discordar. A gente não se acostuma, a gente se conforma. Eu mesma me conformei por muitos anos da minha vida no trânsito louco de São Paulo. Não suportava mais aquela vida, estava quase neurótica, até decidir largar tudo e mudar de país. Desde então, não me conformei mais com aquilo que não me faz bem em nenhum aspecto da minha vida.
Acostumar- se a uma rotina que não nos faz bem ou não nos preenche para mim è conformismo.
Um abraço.

Anônimo disse...

Na verdade Paulo, o costume é a prisão do tédio.É como planejar uma viagem que nunca acontece,e quando parece certa o tempo limite esgotou.O certo é o bom habito,bons costumes,como um abraço na mãe,paí.irmãos,amigos(mesmo os diferentes).
grande artigo.
obrigado
Carlos.

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