domingo, 26 de setembro de 2010

JUNTOS, PORÉM SEPARADOS

Não é raro ouvirmos queixas sobre queixas, de relacionamentos que estavam muito bem enquanto namorados, mas que acabou por se desmoronar quando casados. O que deveria ser a lua de mel, até porque deveria ser também o que se busca no namoro,  passa a ser frustrante. Não é via de regra logicamente, mas é comum que isso ocorra, ou pelo menos que as crises compareçam. Mas, cabe reflexão, para pensarmos o porque isso ocorre e mais ainda, descobrirmos quais as formas viáveis para se resolver isso. 

Um dos fatos mais notórios, é justamente a convivência diária e continuada. Em outras palavras, a intimidade que passa a ser dividida, como se obrigação fosse. Enquanto namoro, essa "caixa de segredo" chamado intimidade fica preservada e de certa forma protegida. Numa relação, agora de casados, é necessário aprender a dividir o que antes não se dividia; precisa aprender a compartilhar o que não se compartilhava; precisa aprender a ceder, o que antes não cedia.

Outro fator é o desgaste comum e inevitável, que todos nós estamos submetidos, quando convivemos com as pessoas por muito tempo. Claro, que quando temos um sentimento por alguém, a busca por este, é incessante. Porém, os acontecimentos tornam-se de grande proporção, quando estamos pertos demais. O exemplo mais claro para ilustrar o quero dizer, são as interpretações na fala, olhar, atitudes que comumente pensamos ser de certa forma, quando na verdade pode ser de outra. Exatamente pelo fato de irmos conhecendo um pouco mais uma pessoa que até pouco tempo, não compartilhava sua vida conosco e não dividia a mesma cama, e que, o que antes era novidade, agora vira rotina.

E por fim, ainda temos a dificuldade de fazermos o simples tornar especial. Geralmente, na fase do namoro, essa arte ainda é possível ser feita: simples gestos e encontros, tornam-se especiais. Um cinema, fim de semana com amigos, risos, o pensar no outro,  planejamento do futuro entre outras atividades, transformam o corriqueiro em especial. No casamento, isso vai aos poucos perdendo o sentido.

Dessa forma, podemos então pensar, que hoje temos muitos casais, que estão juntos, porém separados há tempos.  Porque? Explica-se isso em partes, no fato de não ter o sentimento que está só, ou ainda o sentimento de que não está separado. Sem dúvidas,  isso pesa muito em qualquer relação. Há muitos relacionamentos, em que os casais não estão casados. Estão separados fisicamente, emocionalmente, amorosamente, mas são dependentes da necessidade de ter alguém do lado, mesmo que isso não tenha nenhum significado. Em algum momento essa companhia serve para alguma coisa.

Outros fatores devem ser notados para que isso ocorra. Fatores tais como financeiro, social e pessoal. Para muitas pessoas, adaptar-se a viver uma vida de solteiro ou ainda, morar sozinho novamente é crucial. Por certo, você conhece alguém que sempre está em um relacionamento, pelo simples fato de não estar sozinho. Há pessoas, que ainda não aprenderam conviver com a solidão ou ainda, não conseguem dominá-la. 

Também é necessario dismistificar alguns sentimentos. Somente amor, de fato, não salva nenhuma relação. Há sentimentos que são parte subjetivos e espontâneos, partes construídos. Nenhum sentimento nasce pronto e continua pronto. Toda relação necessita de manuntenção para que continue existindo. E é chato fazer manutençao. Na manutenção é que coseguimos descobrir as "pequenas grandes coisas" e são essas, que precisam ser detectadas, juntos e/ou separados.

Contudo, estar juntos, - juntos - de fato, é essencial para fazer a felicidade de uns. É bem verdade também, que estando separados, é possível estar feliz também. A regra é simples: Junte-se quando o "seu todo", precisa do outro para estar completo. 


Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista e professor universitário em Goiânia-GO

14 comentários:

Átila Goyaz disse...

Muito bom Paulo, parabéns pelo texto!

Lucad disse...

Então é assim?

Nos últimos tempos tenho observado que as pessoas estão carentes. Acho eu que o caleidoscópio da vida esta rodando e estamos vivendo a era do "juntar-se", não o juntar-se da forma que nossos bisavós nos ensinaram, mais com um novo olhar, ou seja: juntos, porém separados.

Não é raro encontramos pessoas ligadas, próximas, intimas e amigas que não moram juntas. Que partilham de uma mesma fé - em igrejas opostas. Que ouvem a mesma música - em aparelhos diferentes. Que dormem juntos - em camas separadas. Que choram juntas - unidas apenas por um fio invisível do celular.

Gosto dessa coisa louca da intimidade de momento, da intimidade cega, da intimidade apenas do toque e que respeita a alma. Prefiro mil vezes chegar ao coração pelos olhos, que pelo beijo.

Nossa, palestrei! (risos). E como diria Perla: ThururuThurá... thurá!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Uma lição querido ... uma lição ...

"Nenhum sentimento nasce pronto e continua pronto. Toda relação necessita de manuntenção para que continue existindo. Na manutenção é que coseguimos descobrir as "pequenas grandes coisas" e são essas, que precisam ser detectadas, juntou e/ou separados.
Contudo, estar juntos, - juntos - de fato, é essencial para fazer a felicidade de uns. É bem verdade também, que estando separados, é possível estar feliz também. A regra é simples: Junte-se quando o "seu todo", precisa do outro para estar completo. "

Ontem, eu e o Wander completamos 36 anos de relacionamento construído sobre estes pilares ...

bjux

;-)

Anônimo disse...

A vida tão ridiculamente curta e a circunstância de raramente a aproveitarmos para arquitectar o nosso próprio horizonte, acabam por fazer de nós meros caminhantes sem outro objectivo que não passe por uma espécie de estratégia da aranha.

Só que, ao contrário dela, a nossa teia - se calhar sem verdadeiramente darmos conta - prolonga-se por um egocentrismo que, na realidade, acaba por limitar o nosso desenvolvimento enquanto seres supostamente racionais.

...E aí, manifestamente, não cabe o caminhar a dois!

Rond disse...

Vc é sempre divino Paulo.
Falei mais ou menos disso no meu ultimo post, mas não de maneira generalizada. falei de mim.
boa semana pra vc.
Abraço

Unknown disse...

"Nenhum sentimento nasce pronto e continua pronto. Toda relação necessita de manuntenção para que continue existindo..." Precisamos fazer o simples tornar-se especial!

Paulo, meu amigo,só mesmo uma alma como a sua para entender tão profundamente de sentimentos, de relacionamentos, de ser humano.
Você vê com os olhos, mas verdadeiramente o que escreve é com o coração.

É uma alegria,ter a oportunidade de ler seus textos, que tão bem descrevem o que vivemos e muitas vezes nem percebemos.

Milhões de beijos...........

Francy.

DoUgLaS BaRrAqUi disse...

Grande Paulo,

devido a correria, fiquei meio sem tempo para as minhas visitas esporádicas ao seu blog. Pois bem, aqui estou, e gostei muito do texto que acabo de ler, de fato relacionamentos hoje não fazem, como no passado, parte de uma aliança entre famílias para conjugar poderes, mas parecem contratos que podem ser rompidos, feitos e desfeitos. O Amor, parece demasiadamente subjetivo e incompreensível e de fato é, mas prefiro não conceber os laços matrimonias como acordos firmados diante de juízes ou padres. Embora ainda não tenha casado, creio que ainda não encontrei minha "cara metade", prefiro conceber o casamento como uma etapa da vida, a dois, salvo nossa responsabilidade biológica de propagar a espécie e nossa necessidade do outro.

Um grande abraço ao amigo, sucesso!

disse...

Olá Paulo,
Só hoje retornei a visitar meu blog e vi que você havia passado por lá e deixado um recado. Sim, lembro-me de você.
Gostei muito de ler seus comentários e, em especial, ler este texto. De fato, uma vida compartilhada sob o mesmo "teto" é diferente de um namoro em que cada um está em sua casa. Tenho vivido essa experiência há um ano e sei como o exercício de ceder é difícil, porém amadurecedor. Gosto muito de uma das frases do livro O Pequeno Princípe: "Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que a fizeste tão especial". Nos dias de hoje, pergunto-me se estamos mesmo dedicando tempo às pessoas que nos são caras. Foi ótimo lhe rever por aqui e ler seu texto que também está muito bem escrito, saboroso de ser lido do início ao fim. Um grande abraço!

Ro Fers disse...

Perfeito suas colocações...
Muito desejam relacionamentos, mas ao mesmo tempo têm medo de arriscar, realmente relacionamento exige manutenção constante para não cair na monotomia...
E nada melhor do que fase do namoro.

Unknown disse...

nossa bem legal essa questão de falar de relacionamentos, eu concosdo tambem que exisem alguns casos hoje assim parabens muito legal sua colocação

Anônimo disse...

´´Há muitos relacionamentos, em que os casais não estão casados. Estão separados fisicamente, emocionalmente, amorosamente, mas são dependentes da necessidade de ter alguém do lado, mesmo que isso não tenha nenhum significado. Em algum momento essa companhia serve para alguma coisa.`` Vivo assim hj...espero que algo aconteça. Excelente post.
Abraço!

Anônimo disse...

Olá... Gostei muito, Excelente post!
Dois seres buscando o mesmo alvo, correto? Talvez o que acontece é que o egoísmo tomou conta das pessoas e as mesmas se esquecem que estar junto com alguém é também se doar de forma incondicional, sem cobranças...
para que o imperfeito se torne perfeito. Tudo depende do que cada almeja atingir né? Eu almejo uma união duradoura e de verdade. Espero não comenter os mesmos erros daqueles que tinham uma boa intenção e foram surpreendidos por uma outra realidade

Unknown disse...

Pra mim o que falta nos casais de hoje é amizade e amor.
A amizade faz com que somos verdadeiros um para com outro, sem as mascaras que nos fazem diferentes a cada dia e nos tornam contínuos em ações. Você é aquilo que tem a oferecer e se isso complementa ao outro... perfeito.
E amor... há o amor, por favor, não paixonite! Os casais deveriam ser motivados a ficarem juntos por ele e não por carência ou necessidade de resposta a sociedade. Ele é o que sustenta a relação, pois é a partir dele que outros sentimentos primordiais como respeito, fidelidade, carinho, dedicação e paciência são "recrutados" e torna a vida simples e fácil.

Anônimo disse...

Já vivo assim há alguns anos e é terrível.
Em algum lugar do passado tudo foi acabando aos poucos, as brigas aumentando, mudanças trazendo novos comportamentos que antes eram diferentes e tudo foi sendo minado aos poucos até que atingiu um grau inaceitável e que culminou com a falta de interesse, inclusive sexual.

Infelizmente o certo é a separação, mas por vezes pesa o lado financeiro, para onde ir cada um? E filhos?
Eu, particularmente, me garanto financeiramente sozinho e ajudaria muito bem meu filho(a), podendo inclusive morar comigo sem nenhum tipo de problema, mas e a outra ponta? Como vai se virar? Mesmo trabalhando não seria suficiente para se alto bancar. As opções até existem, mas surge a resistência.

Têm situações em que fica difícil você se separar fisicamente, o jeito acaba sendo "ir levando", até quando? Ninguém sabe.

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