sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O DIA DE CORTAR O CABELO

Um dos acontecimentos marcantes em nossa vida, é sem dúvida o dia em que, quando criança, tínhamos que cortar o cabelo. Essa atividade na verdade existiu sempre, em especial nos meninos. Mas é só depois, e bem depois, que descobrimos esse dia. E aí a relação com a essa data começa a ser construída.

É normal que quase sempre, nós não nos lembremos desse dia. Talvez agora, com um pouco de exercício, possamos revisitar essa data, e perceber alguns por menores, que não percebíamos. Talvez hoje, outra forma fácil que relembrarmos essa data é assistindo um adulto tentando fazer isso com uma criança.

Mas era nessa tarefa que por certo iríamos ficar muito feliz ou por certo iríamos nos aborrecer e aborrecer outros. O cabelo -  o nosso cabelo -  que iam por as mãos, era algo que quase sempre não gostávamos. Os pais precisavam prometer balas e doces, para conseguir em poucos instantes, a quietude tão difícil para o pequenino. Para outros, esse dia era sinonimo de festa. A pessoa que ia cortá-lo sempre tornava-se o "tio" a quem depositávamos confiança.

Para outros, esse era um acontecimento digno de festa. Era um lugar, que era bom para ir com outros, e quando a família tinha mais de um filho, geralmente era uma tarefa coletiva e embora inquieto, cortar os cabelos era bom. Após, haviam os elogios e o reforço de que "ficou lindo". 

Outro fator curioso, e que reforçava a decisão de cortá-lo ou não, era  a posição da lua, que sempre era observada. Dependendo da fase que a mesma estava, era melhor não cortar. Até hoje, há pessoas que a observam. A diferença é que naquele época, nós não entendíamos porque.

Ainda havia um fator que hoje não se vê mais. O corte dos cabelos era feito por alguém que não era um profissional propriamente dito. Ele, a pedido dos pais, colocava o pequenino sobre uma cadeira e sem capa ou espelho, fazia o corte. Esse corte, era uma escolha dos adultos e só depois de pronto era nos dado um pequeno espelho para a avaliação. Pequeno mesmo.

Para uns, a impressão era de que os cabelos nunca mais iriam voltar a ser o que eram. O temor era de que no dia seguinte, iríamos ser alvo de críticas dos amigos na escola, na rua e com um corte, que até nós mesmos reprovava na maioria das vezes.

Dito isso, podemos pensar no cortar o cabelo de hoje. Talvez por conta desse dia de cortar o cabelo que ficou para trás é que pensamos nos valores atuais. O cortar do cabelo fala muito de uma pessoa. Os cortes e as formas, revelam muito. Hoje, não há mais o "barbeiro" de espelho pequeno e cada um de nós podemos escolher como usá-lo e como cortá-lo. Há aqueles que odeiam que toquem nos seus cabelos; há aqueles que amam que tocam; podemos ver aqueles que cuidam e fazem dele um aliado à sedução e há aqueles que deixam como estão. Até na religião, encontramos a força da fé, baseada no cabelo. Há os que penteiam, os que fazem cachos, outros que alisam, outros que deixam criar piolhos.

O tempo também pesa nos cabelos. Eles ficam brancos, outros desaparecem e há os que se enfraquecem demais. Há os que lutam para mantê-lo sempre vivo com cores das mais variadas e por outro lado, os que dizem que o charme é a cor que o tempo lhe dá. É impressionante como existe hoje cremes e mais cremes para todos os tipos de cabelos possíveis. 
 
O que trazemos de real, do dia em que cortavam o nosso cabelo? Porque esse dia marcante é lembrado tão pouco? Porque chorávamos quase sempre? Porque ás vezes sorríamos?  Porque havia o dia de cortar os cabelos?


Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, especialista em educação especial e inclusiva e professor universitário em Goiânia-GO.

12 comentários:

Anônimo disse...

Paulo

Obrigado pela visita, seu blog é muito legal. Volte sempre.

Abs

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

uala ... como é bom tê-lo de volta querido ... vc com seus textos e reflexões inteligentes sempre nos leva a pensar um pouco mais sobre nós mesmos, nossas vidas e nossas atitudes ...

esta questão do corte de cabelo foi fantástica ... não lembro da minha primeira vez, mas a memória mais antiga q eu tenho é de uma cadeira de barbeiro [Sr. João], quando ele me prometeu um saquinho de balas se eu ficasse quieto para ele cortar minhas madeixas que eram muitas ... eu tinha pavor de cortar cabelo até os 05 anos pois me lembro disto e de que daí para frente sempre queria ir ... rs

bjux ao "xará"

;-)

Ro Fers disse...

Nossa...como eu destestava cortar cabelo, tremia, chorava, minha mãe tinha que me segurar na cadeira....
Uma coisa tão simples, porém, inexplicável, mas acho que termo "Cortar", gera medo, pois além do cabelo, dava medo de que cortassem algo a mais, como por exemplo a cabeça... Coisa de criança...
Hoje gosto de cortar o cabelo, óbvio, dar um UP do visual, apesar da preguiça de ficar sentado à espera, ouvindo um monte de mulheres fofocando...

DoUgLaS BaRrAqUi disse...

Ola meu caro amigo Paulo,

perfeito o arigo. Meus pais falavam que cortar o meu cabelo, enquanto pequeno, era uma tortura para o cabeleleiro, p/ meus pais e para mim que não parava quieto. Como não tenho um cabelo "bom". Contento-me em passar a máquina. E odeio com que rapidez ele cresce ... cabelo, o corte em si, vejo como uma marca de uma personalidade não somente como um estilo puramente e simples.

Grande abraço ao amigo!

Edilson Cravo disse...

Acho que pra mim nunca foi dramático cortar cabelo, sempre gostei da festa que envolvia a situação toda, pra mim era mais um evento dos muitos da infancia...rs
Abraços e llndo fim de semana.

Rond disse...

Paaaaulo meu querido. como eh bom lembrar dessas pequenas coisas. vc tem o poder de nos fazer refletir.
Abração!

marcelo grejio cajui disse...

Gostei da sua descrição dos fatos.

Abraço,
Cajui

Lucad disse...

Oi amigo.

Cortar o cabelo? Hummm... no meu caso era minha mãe quem cortava e eu odiava, alias.. hoje acordei odiando muita coisa!

Voltando ao cabelo. Não curto pêlos, me faz lembrar de onde viemos (primatas), por isso é necessário aparar, sempre.

No fundo, acho que não consegui vincular o texto à realidade. Chamei Freud para tentar me explicar, mais não consegui (risos).

Resumindo: quando sento para cortar o cabelo a vontade q me da é de sair logo dali, correndo, para tomar um bom banho e me livrar dos insuportáveis "pelinhos" que coçam demais.

Auris Lucad

Jacque disse...

Vi vc no Blog do Dil... E agora vi o Wanderley no seu Blog rss...
Eu estou oferecendo meu cartãozinho de Natal, no meu Blog AGUA DE ROSAS, apareça...
http://aguaderosas-jacque.blogspot.com/

Arrumei um motivo pra fazer novas amizades... Tentar...
Tem gente achando que é propaganda do Blog e nem apareceu... rs...

Dil Santos disse...

oi Paulo, tudo bem?
Menino, eu ñ lembro muito desse detalhe, kkkkkk
Lembrei do meu sobrinho de 3 anos, ele adora ir cortar o cabelo.Então, estabelecer prazos pode até ser bom na teoria, mas na prática se torna meio difícil né? rs
Desculpa a demora em responder, mas ando numa correria daquelas. Feliz 2011 pra vc, um mundo de coisas boas pra vc.
Abraços menino

Kelly Ribeiro disse...

Oi Paulo, talvez nem lembre mais de mim, de qualquer forma muito legal seu blog. Descobri seu blog através do blog do João Paulo. Att, Kelly Ribeiro

Hugo de Oliveira disse...

Oi Paulo,

como vai?
apareça em meu blog depois e confira o novo visual.

abraços

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