segunda-feira, 6 de julho de 2009

AIDS

"Não há cura para o nascer e o morrer, a não ser... saborear o intervalo!"
(Autor Desconhecido)

Já há algum tempo, tive a oportunidade de conhecer algumas pessoas portadoras do virus HIV. Digo oportunidade, porque esse encontro, não se deu em um ambiente terapêutico, ou com a finalidade de o ser. Aconteceu de forma nada formal e em um ambiente nada voltado para a área médico-terapeuta. Eu não os estava analisando.

Nesse ato, três fatores me chamaram atenção e é sobre isso que quero falar com vocês nesse breve escrito. O primeiro deles, é o alto índice de preconceito que permeia o portador do HIV e nisso não tem novidade alguma. Esse monstro, que corrói todo circulo social, acontece de forma dualista, partindo tanto do portador, como daqueles que o conhecem. Fica claro, que as pessoas mudam quando descobre que o seu próximo – aquele ali, sentado comigo à mesa – tem o HIV. Mas também é incrível, como o portador muda, quando descobre que as pessoas sabem que ele é “diferente”. Na sua conversa, nos seus planos futuros, quase tudo se abrevia, porque a conjunção “se” se torna cada vez mais presente em seu vocabulário.

Então, eu me perguntava: Porque? O que de fato muda numa relação, estando as pessoas sabendo ou não que esse ou aquele é portador de uma moléstia incurável. O preconceito existe ainda, na forma como essa pessoa adquiriu o HIV, podendo ser na transfusão de sangue e/ou na relação sexual, que pode ser agravada mais ainda, seja qual for a sua preferência sexual. Ironias à parte, mas opção sexual, também é base para preconceito. A sociedade aceita ou descarta, segundo seus padrões de conceito, já estabelecidos em pré-conceitos, vindos de onde? Nesse casos, dois grupos se criam automaticamente: os vítimas do HIV e os vítimas do preconceito. Ambos podem ser evitados.

No segundo momento, a velha máxima, se confirma: “Quem vê cara, não vê AIDS.” Dito isso, derrubamos automaticamente a primeira observação. Mas o perigo mora aí também. Essas pessoas – todas elas – desfrutam dos mesmos privilégios que as demais e as normas que regem uns, regem os demais. Dae eu questiono: O preconceito é necessário? Segurança é também preconceito? Não sei! No contato com essas pessoas, notei que, fazendo as atividades que todos fazem, elas se esquecem por algum momento, que são portadoras do vírus, que são "aidéticas." Nesse momento de lazer, eles podem sorrir, fazem piadas com a doença, debocham dela e se demonstram fortes. Até quando? Alguns me disseram: “...até que encontro alguém especial e pra ser honesto, preciso contar a verdade e ai, tudo muda.”

O terceiro fator, é que no assunto em aprêco, as pessoas em questão, são todas homoafetivas. Mas e dae? Ocorre que, no contexto gay, a máxima de que “quem vê cara, não vê AIDS,” se torna muito mais evidente. Não existe muita fala para que se chegue ao ápice entre dois homens. Isso é fator, que necessita ser trabalhado no contexto homossexual. As pessoas não se falam muito e se entregam depressa demais, mesmo que seja por pura curtição. Quando o caminho é feito ao inverso, será sempre necessário procurar um desvio. Me refiro a caminho inverso, porque para o gay, o sexo é quase sempre a prioridade e não o conhecer, que deveria ser. O conhecer que vem depois, pode ser muito doloroso.

A carência, talvez seja o fator primeiro de dor do gay. Carência, não só de afeto, mas de reconhecimento, de respeito, de orgulho, de liberdade, de independência, de igualdade, de poder dizer as pessoas: “Também posso.” E nessa carência, se esconde o perigo, afinal de contas, a resposta a isso, sempre vêm acompanhada de outros males. A máscara que esconde a carência, se apresenta de muitas formas: Corpo escultural, olhar sedutor, dança sensual, corpo bronzeado, a busca incessante pela barriga de tanquinho e coxas de Erus. Pronto! Disso até à satisfação do desejo sexual é apenas um passo. Conseguem fazer a relação? A fuga da carência é proporcional ao chamar a atenção de quem rodeia, isso equivale dizer ainda, que a energia sexual do gay, não se concentra no raciocínio ou na inteligência: É no corpo. Aliás, independente da sexualidade, vocês conhecem alguém diferente? Mas no gay isso é mais acentuado. Porque? Haja testosterona!

Mas, o que quero dizer com tudo isso? É importante ressaltar, que nesses três aspectos, o que se torna evidente, é a aceitação e o conhecimento a respeito da doença e das pessoas. A ignorância, gera o preconceito, que por sua vez, gera a morte. Estar com um aidético não mata. Aceitá-lo não mata, pelo contrário, ajuda em muito a sua longevidade. No fim, o corpo sarado e atlético, a sedução dos lábios e olhos, esbarra-se na força de uma doença que não tem volta. Uma pequena afta na boca, pode ser para um deus-grego, o pecado mortal.

Não é só o medo que se instala, quando deparamos com essa realidade. Não deve ser apenas, o evitar “aquela” pessoa ou evitar “aquelas” pessoas. Nunca conseguiremos. Nós não sobrevivemos sozinhos. Em pouco tempo, a AIDS estará em nossa casa, em nossos amigos. Em pouco tempo, bons amigos nossos podem ser ir ou podemos ainda nos encontrar no velório de um deles. Ainda não tem cura para esse mal, mas ainda se pode evitar a doença, sem contudo evitar as pessoas. Com certeza, não há cura para o nascer e o morrer, a não ser saborear o intervalo e saborear da melhor forma possível.

Paulo Veras é Psicólogo Clínico, Analista em Goiânia.

21 comentários:

Unknown disse...

Excelente texto.Concordo com você.As 'ego trips' gays se devem principalmente à insegurança.ao medo da rejeição.
Parabéns pelo blog e um abraço.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Parabéns pela postagem e pelo blog ... criativo e contundente ... uma viagem estar por aqui ... voltarei sempre ... seguindo e linka ...

obrigado pelo carinho da visita e do registro no meu espaço ...

bjux

;-)

Osvaldo disse...

Caro Paulo;

Excelente cronica sobre um tema ainda sujeito a muitos tabus, quando deveria ser enfrentado com toda a pela sociedade com toda a transparência que o tema exige...

Ainda bem que há pessoas como o Paulo para discutirem abertamente e sem fobias problemas que poderâo inverter usos e costumes de uma sociedade ainda não preparada para enfrentar as diferenças.

Gostei imenso deste seu blog e por cá passarei sempre que possivel.

Um abraço Paulo.
Osvaldo

Layon Rodrigues disse...

O Grande problema do pré-conceito é que ele é automático e instantâneo (por isso ele é "pré"), então por mais que agente tente nunca conseguimos ficar completamente isentos dele... posto, que temos as vezes preconceito até com nós mesmos.

Apenas Alguém disse...

parabéns pela postagem
inclusive estou desenvolvendo um texto sobre isso, estou quase terminando, assim que o post ficar pronto colocarei no ar.
grande abraço
até mais
Apenas Alguém

tem msn?

Sonia Parmigiano disse...

Paulo,

Muito obrigada por sua visita e comentário...

Vou ficar mais aqui lendo-te!
Sempre ótimos textos!!Parabéns!!

Beijos,

Reggina Moon

Vá conhecer meu outro Blog, uma honra!

www.versoeprosapoemas.blogspot.com

@JayWaider disse...

Oi Paulo,
gostei muito desse post. Excelente mesmo. Bom te ter entre nós. concordo com o vc disse. Apesar de eu ser daqueles que acham que é preciso disseminar a idéia mesmo entre os homens que o conhecer é mais importante que ficar e ou transar. Eu nunca me dei a esse desparate. Eu valorizo o inverso.
Ah, o Alê foi ai pra Goiania na quinta da semana passada e volta amanha (quarta).
Abraço amigo
Jay

Mércia disse...

Obrigado por nos alertar sempre.
=Bjs

Robson Schneider disse...

Invasão nenhuma Paulo.Fique a vontade pra voltar quando quiser... quanto ao post: A desiformãção alimenta os preconceitos, sempre...
Abraço

Camila disse...

Ótimo seu post, assunto complicado esse.. ainda é preciso romper mts preconceitos!

Tem uma música aí no Brasil com meu nome sim, mas eu não gosto mt dela.. hahahaha

Bjs!

Linda disse...

Muito bom o texto!!
Eu acredito que um dos grandes problemas, e que tornam as pessoas diferentes e distantes, é o medo. Talvez nem seja tanto preconceito por causa da maneira como a pessoa pegou o HIV, e sim pelo medo de pegar também e ter que tomar remédios a vida toda, e tbm ser tratado de forma diferente...
Não sabemos ao certo o motivo de tanto preconceito, mas que existe, existe! É uma pena.
Adorei aqui!! Vou te seguir!!
ah! e obrigada pela visita, volte sempre!!!
ótima quinta-feira p/ vc!! Bjss

_Gio_ disse...

AIDS é algo que deveria ser muito mais natural de lidar: não afeta o físico, a aparência, a coordenação motora ou o psicológico. Mas parece que os próprios doentes se condenam - e as pessoas que o rodeiam superprotegem.

A AIDS é uma doença das mais graves; porém, ela é a mais branda em reflexos. Um aidético parece uma pessoa sadia (e é, se tomar as devidas precauções). Isso deveria ajudar a evitar o preconceito, mas parece não ser o suficiente.


Só achei muito generalista teu comentário sobre os homossexuais: uma das maiores lutas deles é combater esse estigma de poligamia e "sexo antes, papo depois". Por causa de alguns poucos - e o preconceito da sociedade -, eles vem sendo vistos como tarados a décadas. Isso tudo, e não se para pra pensar que a única diferença entre eles e nós é o gênero pelo qual sentem atração.

Tenho amigos gays, de ambos os sexos - e muitos conhecidos. E, gente, eles vivem, crescem, sonham e se apaixonam. Qual a diferença?

:: Fatima :: disse...

"Não há cura para o nascer e o morrer, a não ser... saborear o intervalo!"

Parei pra pensar sobre essa frase e sabe que e verdade?A melhor vinganca contra a morte e viver bem enquanto se e vivo!Ahahaaa


Brigado pela sua visita.
Adorei o blog e voltarei sempre!

BjOos!

Unknown disse...

Com certeza,,,,,nao pode deixxar que tudo acabe por uma falha é correr a tras e lutar....

abraçao e obrigado pela presença ao entrando...volte sempre...

como vc disse é importante uma parada tem hora...mas parea refletirmos dando prosseguimento as nosss vidas...

abraçao

:.tossan® disse...

Uma boa lição para todos nós. Esse tipo de postagem é que vale a pena! Abraço

RP disse...

Paulo, gostei do contexto do post, mas acho que você precisava diferenciar melhor a diferença entre ter aids e ser portador do hiv.
Pode se levar mais de 10 anos da contaminação até o desenvolvimento da Imunodeficiência propriamente dita. E esta pode ser evitada com o uso de medicamentos. Portanto, nem sempre um soropositivo tem AIDS. Mas as pessoas só conhecem a AIDS, pq HIV não tem cara, não tem sintoma, mas a AIDS tem, os remédios têm efeitos colaterais sim. Enfim... o senso generalista que iguala Soro+ e SIDA só prejudica na luta pelo fim do preconceito.

Mas como escrevi outro dia:

Num sábado bem cedo, assitindo FUTURA!, o programa "Saúde Brasil" falava sobre o HIV no Brasil. O folhetim falava bastante sobre o preconceito para com os portadores.
Algumas pessoas entrevistadas diziam que tiveram relacionamentos que acabaram ou nem começaram por medo das pessoas de se relacionar com um positHIVo.

Você pretende transar sem preservativo com alguém? Então qual a diferença se ele é portador do vírus ou não?

Se você pretende transar sem camisinha com alguém, você está exposto ao risco. Se você está exposto ao risco, como pode ter preconceito?

Quantas pessoas você já transou sem saber se eram portadoras do vírus ou não (alguns sem saber sequer o nome certo)? Por que o saber mudaria sua relação com a pessoa, já que você sempre usa preservativo?

Pesquisei sobre o assunto e vi uma comunidade no orkut com a seguinte descrição:
"...Mas, eu lhes pergunto: por que as pessoas com aids se escondem? De que tem vergonha?O que fizeram de errado? Eu sei a resposta: como todas as pessoas, ELAS APENAS NÃO ACREDITARAM QUE ERAM VULNERÁVEIS AO VÍRUS!!! Portanto, não vejo motivo para se esconderem...Sexuados, todos somos. E a maior parte da população sexualmente ativa não usa preservativos. Portanto, não há motivo para os infectados pelo HIV se esconderem...CHEGA DE EXCLUSÃO! CHEGA DE ISOLAMENTO! CHEGA DE PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO! TER HIV NÃO É VERGONHA!!!"

Eu digo: Latex nele!!! Sempre!!!

FOXX disse...

é
concordo
tudo culpa da maldita carência
carência nesse sentido abrangente que vc falou mesmo

mas como psicologo, me responda, dado essa constatação como se pode mudar? não fazer mais sexo com um desconhecido porque isso não vai concertar a fata de aceitação da sua família? simplesmente? ou correr atrás daquilo que realmente está fazendo falta? a família? os direitos? o respeito?

Anônimo disse...

Tenho uma amiga chamada Rayna Veras.. será que voces sao parentes??

esse lance de portador de HIV é complicado.. até hoj eu tenho duvidas se tenho preconceito ou nao, eu nunca tive perto de um portador (nao que eu saiba), mas eu admiro a força de vontade de viver e a batalha contra o preconceito que esse povo tem que passar diariamente.. nao é mole nao.. excelente postagem e obrigada pela visitinha!!

Rayna Veras disse...

Olá, tenho um conhecido que é portador de HIV, ele tb é homossexual e muitas pessoas se aproveitavam desta condição(escolha sexual) para humilha-lo entre outras coisas que o momento não convém comentar. Tinhamos um bom relacionamento,hoje ele se tornou literalmente um fantasma de si mesmo sem contato com a sua vida e seus conhecidos. As vezes tenho vontade de ir em sua casa, sei lá, sinceramente é uma situação muito constragedora, pois além de ser portador, tem o fato de que ele foi violentado por uma pessoa conhecida e realmenta sua vida mudou e ele não permiti que o abrace-mos, realmente eu queria fazer algo por ele mais que vc significativo, pois é dificil ver alguém que fez parte de sua infância se deixar vencer desta forma, as vezes tb tento entender o que passa em sua cabeça e seu coração e em um momento percebo que ele tem preconceito de sua condição. Eu realmente mim sinto incapaz e triste....

Rayna Veras disse...

Olá, tenho um conhecido que é portador de HIV, ele tb é homossexual e muitas pessoas se aproveitavam desta condição(escolha sexual) para humilha-lo entre outras coisas que o momento não convém comentar. Tinhamos um bom relacionamento,hoje ele se tornou literalmente um fantasma de si mesmo sem contato com a sua vida e seus conhecidos. As vezes tenho vontade de ir em sua casa, sei lá, sinceramente é uma situação muito constragedora, pois além de ser portador, tem o fato de que ele foi violentado por uma pessoa conhecida e realmenta sua vida mudou e ele não permiti que o abrace-mos, realmente eu queria fazer algo por ele mais que vc significativo, pois é dificil ver alguém que fez parte de sua infância se deixar vencer desta forma, as vezes tb tento entender o que passa em sua cabeça e seu coração e em um momento percebo que ele tem preconceito de sua condição. Eu realmente mim sinto incapaz e triste....

Anônimo disse...

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