terça-feira, 4 de junho de 2019

TODOS NÓS CARREGAMOS UM LADO SUBTERRÂNEO




Será se sabemos que grande parte da nossa angústia vem ao perceber a nossa falta? Em 1925 Freud escreveu o texto Inibição, Sintoma e Angústia abordando este assunto tão discutido hoje. Nos tempos atuais, podemos modificar a ansiedade pela palavra angústia.

Devemos lembrar que angústia é um estado e estado este que nos toca e nos movimenta o tempo todo. Geralmente, é na angústia que imaginamos ver os outros alegres, resolvendo-se, curtindo a vida, relacionando bem com seu par e evoluindo.

Quando situações como estas parecem não acontecer conosco, é comum procurarmos o que fizemos de errado para não ter dado certo e o sentimento de angustia aflora. Há uma obrigação social de acerto e de estarmos sempre sorrindo como em uma grande festa.

Porém, o estado de angústia é fundamental e torna-se essencial para lidarmos com as nossas dores, nossas lacunas e com aquilo que pode nunca ser preenchido. É importante para termos a consciência, que a grande festa que imaginamos ter na casa do vizinho, não existe.

Todos carregamos um lado subterrâneo de nós mesmos e isso revela a fragilidade da nossa dor que é comum aos outros também. Revela que na vida real, todos carregam a mesma ansiedade, a mesma inquietação, a mesma carência, o mesmo medo e a mesma ansiedade. O que muda mesmo, são as fotos nas redes sociais.

Precisamos perceber que andamos todos muito insatisfeitos, um pouco céticos e quase sempre perdidos. Ainda estamos angustiados, porque nunca nos dispomos a aprender viver com a falta, com o não ter e sobretudo com a lacuna entre o que somos e o que gostaríamos de ser, ou seja, a dor entre o que se tem e o que falta.

Não aprendemos morrer, nem lidar com a morte, com as perdas, com as frustrações, com nossos vícios e com o que temos.

É urgente que não transfiramos ao outro a responsabilidade da nossa angústia e não será na casa do vizinho que encontraremos refúgio. A responsabilidade em ser é angustiante e o ponto de equilíbrio nem sempre é fácil.



Paulo Veras é psicólogo clínico e organizacional, psicanalista, pedagogo, escreve e faz palestras, especialista em educação especial e inclusiva, especialista em docência do ensino superior e professor universitário em Goiânia-GO.

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